Papa Francisco terá encontro com povos indígenas da Amazônia
Será a
primeira vez na história da Igreja Católica que um Papa
sairá do Vaticano para encontrar-se exclusivamente com indígenas.
Por Freud Antunes – Amazônia Legal
18/01/2018
Rio Branco (AC) – Ainda estava escuro quando, por volta das cinco horas desta
quarta-feira (17), 45 indígenas do Acre e de Rondônia, que representam 20
etnias diferentes da Amazônia, embarcaram em um ônibus na frente da sede do
Conselho Indigenista Missionário (Cimi) da capital Rio Branco com destino a
Puerto Maldonado, no Peru. Eles realizarão um trajeto de quase 560 quilômetros
e um tempo médio de 8 horas de viagem para participar de uma audiência com o
Papa Francisco, na sexta-feira (19).
Edna Shanenawa, da Terra Indígena Katukina-Kaxinawá, e Alan Ismail Shanenawa, da juventude Shanenawa e Jamamadi. (Fotos: Odair Leal/Amazônia Real) |
A audiência, chamada de Encontro com os povos da Amazônia,
acontecerá no Centro Regional Madre de Dios, a partir das 10h (13h em
Brasília). Segundo a Rádio Vaticano,
participarão da audiência cerca de 5.000 indígenas, que estão se deslocando em
caravanas do Brasil e da Bolívia para o encontro com o pontífice. A Comissão
organizadora da viagem está preparando traslado, alimentação e mobilidade local
para os visitantes.
Para chegar ao destino, a delegação de indígenas que partiu de
Rio Branco deverá fazer uma parada em Assis Brasil (a 331 km de Rio Branco),
município do Acre e que fica na divisa com o país vizinho. No posto de controle
Polícia Federal, na divisa entre Xapuri, Assis Brasil e Brasileia, eles
apresentarão os documentos de identificação para registrar a saída do Brasil.
Ao todo, 45 índios do Acre e Rondônia participarão do
encontro em Puerto Maldonado, Peru.
(Foto: Odair Leal/Amazônia Real)
|
Ao cruzar a fronteira, os integrantes da comitiva entrarão na cidade de Iñapari, seguindo mais 228 km até o destino final. Os indígenas ficarão hospedados em uma escola cedida pelo governo peruano.
Carta
O representante do Cimi, André Machado, disse à agência Amazônia Real que as etnias brasileiras apresentarão uma carta de
apelo por demarcação de terras, melhorias nos serviços de atendimento em saúde,
educação e saneamento básico. Entre a etnias estão povos Apurinã, Jaminawa,
Manchineri, Huni Kuin, Katukina, Kaxinawa e Shanenawa.
“O desejo deles é levar ao Papa aquilo que eles veem
passando nas aldeias tanto na questão da dificuldade que hoje o Brasil enfrenta
em termos de políticas indigenista quanto em relação à saúde, à educação e em
relação à conquista do seu território”, explicou o missionário.
Edna Shanenawa, 42 anos, da Terra indígena Katukina-Kaxinawá, do
município de Feijó, e Alan Ismail Shanenawa, de 20 anos, representante da
juventude Shanenawa e Jamamadi, serão lideranças que participarão do encontro
com o Papa Francisco. Eles acreditam que o encontro dos povos da Amazônia no
Centro Regional Madre de Dios com o pontífice é uma forma de defesa da cultura,
da língua e dos costumes de cada uma das etnias representadas pela delegação
que se reunirá com o líder da Igreja Católica.
Veja as entrevistas no vídeo:
A viagem do Papa Francisco à América Latina começou na
segunda-feira (15) pelo Chile e Peru. Segundo a Agência EFE, no início da viagem o pontífice divulgou um vídeo em
que afirmou que desejava encontrar as pessoas e olhar nos olhos, para que todos
possam experimentar a proximidade de Deus.
“Conheço a história dos seus países, construída com afinco e entrega.
Desejo com vocês dar graças a Deus pela fé e o amor a Deus e aos irmãos mais
necessitados, especialmente pelo amor que vocês têm com aqueles que são
descartados da sociedade. A cultura do descarte nos invade cada vez mais”,
disse.
Delegação partiu de Rio Branco (AC) para encontro com
Papa Francisco no Peru
(Foto: Odair Leal/Amazônia Real) |
Será a primeira vez na história da Igreja Católica, em seus 2
mil anos, que um Papa sairá do Vaticano para encontrar-se exclusivamente com
indígenas. O gesto fala por si mesmo, ainda mais agora que Francisco acaba de
convocar um Sínodo exclusivo para os bispos da Amazônia, em Roma, em Outubro de
2019.
Leia artigo de Roberto Malvezzi (Gogó), membro da Equipe
de Assessoria da Repam (Rede Eclesial Pan Amazônica) no site do Cimi.
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