Pesquisadores comprovam que fumaça das queimadas da Amazônia pode causar câncer
Descoberta
é resultado de estudo que teve como referência tese de doutorado da bióloga Nilmara de Oliveira Alves, da USP.
Por Marcia Wonghon - Agência Brasil
Por Marcia Wonghon - Agência Brasil
21/01/2018
As partículas carregadas de toxinas, liberadas durante queimadas na Amazônia, se inaladas involuntariamente por longo período, podem causar estresse oxidativo das células e danos genéticos irreversíveis, resultando até mesmo em câncer de pulmão.
A descoberta é resultado de um estudo realizado por
pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), Fundação Oswaldo Cruz e Universidade Federal de
Rondônia(Ufro).
Foto: Fábio Pontes/Amazônia Real |
A pesquisa é referente a uma tese de doutorado da bióloga
Nilmara de Oliveira Alves, da USP. A equipe coletou amostras de material
particulado fino em Porto Velho, uma das áreas mais afetadas pelas queimadas na
região amazônica.
Para entender como ocorre a contaminação, os
pesquisadores expuseram em laboratório linhagem de células pulmonares às
partículas, compostas por material tóxico, em concentração semelhante com as
encontradas nas queimadas da Amazônia, analisadas com técnicas bioquímicas
avançadas.
Dano
Essas análises permitiram medir o grau de inflamação e de
lesão no DNA. Foi comprovado que o dano no DNA pode ser tão grave a ponto de a
célula perder o controle e começar a se reproduzir desordenadamente, evoluindo
para câncer de pulmão.
Para a pesquisadora Sandra Hacon, da Escola Nacional de
Saúde Pública, as conclusões do trabalho são inéditas. Segundo ela, pela
primeira vez foi possível demonstrar que as partículas de queimadas da
Amazônia, ao entrarem nos alvéolos pulmonares, causam danos genéticos nas
células, podendo leva ao câncer de pulmão.
Sandra Hacon e o pesquisador Christovam Barcellos
coordenaram o projeto Clima & Saúde da sub Rede de Mudanças Climáticas do
INPE/INCT Rede Clima. O estudo foi publicado na revista Nature Scientific
Reports. O projeto da Rede Clima envolve os efeitos das queimadas com
alterações climáticas.
Medidas
Sandra informou que algumas medidas podem ser adotadas
pelas autoridades ambientais e de saúde, no sentido de evitar o agravamento de
doenças respiratórias na população, exposta a fumaça das queimadas.
“É uma questão de bom senso. Não faz sentido continuar
esse processo de queimadas na Amazônia. A situação estava controlada, mas houve
aumento acentuado nos últimos três anos.
Uma alternativa é a montagem, pelas secretarias
municipais de Saúde, de um sistema de vigilância das doenças respiratórias, de
modo a ajudar a população das cidades onde as queimadas vêm ocorrendo de forma
sistemática.”
Nos meses de agosto, setembro e outubro os focos de
incêndios dissipam uma nuvem de fumaça tóxica sobre a região amazônica. A
população mais vulnerável é formada por crianças e idosos.
Crianças
De acordo com Sandra Hancon, as crianças menores de cinco
anos, prejudicadas pelo impacto das partículas com componentes cancerígenos da
fumaça das queimadas, desenvolvem alergias respiratórias, que comprometem o
aprendizado escolar.
Conforme a pesquisadora, os mais atingidos são
principalmente famílias de baixa renda, que estão em áreas de risco sem alternativa
de sair.
Sandra Hacon disse ainda que a divulgação do trabalho
pode incentivar as autoridades a instituir na região um programa de melhoria da
qualidade do ar e monitoramento dessas partículas finas provenientes das
queimadas, decorrentes da ocupação desordenada para atender a interesses
econômicos.
Dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais, indicam que em 2017 ocorreram mais de 275 mil focos de
incêndio em todo o território nacional, sendo mais de 132 mil em estados
amazônicos.
Edição: Armando Cardoso
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