Exemplo de luta e humanidade, Dom Pedro Casaldáliga completa 90 anos de idade
Poeta
e profeta do povo, bispo emérito se tornou referência na luta pelos direitos
humanos no Araguaia (MT).
Por Emilly
Dulce – Brasil de Fato
16/02/2018
"Por
onde passei, plantei a cerca farpada, plantei a queimada.
Por
onde passei, plantei a morte matada.
Por
onde passei, matei a tribo calada, a roça suada, a terra esperada…
Por
onde passei, tendo tudo em lei, eu plantei o nada."
(Confissão do
Latifúndio)
Essa é uma das poesias de protesto escrita pelo bispo Dom
Pedro Casaldáliga. Os versos rimam com a vida do militante cristão, que ficou
conhecido pela defesa dos direitos dos mais pobres na região de São Félix do
Araguaia, no Mato Grosso.
Quem conviveu com o missionário destaca a importância de
sua luta pela vida, pelos bens comuns e pela democracia, como é o caso de
Antônio Canuto, membro fundador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que viveu
ao lado do bispo na região amazônica.
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil/Em FotosPúblicas
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"Pedro é um homem de uma profunda sensibilidade
humana, por isso ele é um grande poeta e um grande profeta. Essa sensibilidade
se traduz em poesia, em denúncias e nas diversas formas de manifestar a
sua contrariedade às injustiças e todas as formas de exploração que existem."
Pedro Casaldáliga Plá nasceu catalão no ano de 1928, em
uma aldeia há alguns quilômetros de Barcelona. De família camponesa,
desembarcou no Brasil em 1968 e foi consagrado bispo em 1971, quando lançou sua
Carta Pastoral Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a
marginalização social. O texto ficou conhecido nacional e internacionalmente e
marcou o perfil do missionário como porta-voz de índios e agricultores, como
destaca Antônio Canuto:
"O grande diferencial foi dar visibilidade a uma
situação amazônica que praticamente era invisível. Ele mostrou para a Igreja e
para a sociedade uma realidade que no restante do Brasil não se conhecia. Ele
foi assumindo diretamente a defesa das pessoas mais atingidas pela violência
daquela região, que eram os índios, os posseiros e os peões",
afirma.
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil/Em Fotos Públicas
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Hoje, Dom Pedro Casaldáliga completa 90 anos de vida e 50
como bispo do povo. Ele foi responsável por articular e fundar o Conselho
Indigenista Missionário (Cimi) e a CPT, como uma forma de tratar assuntos
sociais e políticos no universo da Igreja Católica.
Pedro Casaldáliga se apaixonou pela América Latina e só
retornou uma vez à sua terra natal. Pela vocação literária, ajudou a escrever
a Missa da Terra sem Males e a Missa dos Quilombos, cantada por
Milton Nascimento e diversos artistas.
Escolha
pelos pobres
Obstinado, corajoso e firme, Casaldáliga fez uma escolha
pelos pobres e lutou no Brasil da ditadura militar por saúde, educação, justiça
e pela reforma agrária, o que lhe rendeu ameaças de morte e ataques dentro e
fora da Igreja. As hostilidades não intimidaram sua resistência contra os
males que o capitalismo selvagem — brasileiro e internacional — causava a
milhares de homens e mulheres.
Em 2005, Dom Pedro, que sofre do mal de Parkison,
apresentou sua renúncia do governo pastoral de São Félix do Araguaia. Hoje,
frágil e com dificuldades de locomoção, ele ainda vive no mesmo lugar onde
construiu seu compromisso religioso, social e político na vocação com o
Evangelho que encarnou ao longo da vida.
Assista à entrevista de Dom Pedro ao programa Roda Viva, em 1988:
Edição: Mauro Ramos - Brasil de Fato
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