Ataques aos Direitos Humanos representam tentativa de manutenção de pacto colonial
Ex-ministros
debateram retrocessos sociais durante a noite de sexta-feira na Universidade
Federal do Paraná (UFPR).
Por Gibran
Mendes - Brasil de Fato
20/05/2018
História, avanços e retrocessos no Brasil e no Mundo
foram temas de um debate sobre a desconstrução dos direitos humanos. O evento
foi realizado na Universidade Federal do Paraná (UFPR) durante a noite
de sexta-feira (18) e contou com a presença dos ex-ministros Paulo
Vannuchi e Nilma Lino Gomes.
Vannuchi recordou as lutas que envolvem os Direitos Humanos ao longo da história. Foto: Gibran Mendes |
Nilma, que foi ministra da Igualdade Racial e Direitos
Humanos de Dilma Rousseff, avalia que os ataques aos direitos humanos ocorrem
não apenas no Brasil, sendo uma onda internacional. “Principalmente em países
latino-americanos e africanos”, exemplificou.
Segundo ela, nestas nações há uma tentativa de manutenção
de determinado status quo. “Existem forças colonizadoras dominantes que nunca
aceitaram sair deste lugar, sempre tentaram manter um laço colonial,
mas hoje um laço colonial do século XXI”, afirmou.
Pressão
Estes ataques, embora tenham crescido no Brasil após o
Golpe de 2016, já existiam, ou ao menos tentativas, conforme lembra a
ex-ministra. “Também vivemos tensões durante todo o tempo em que estive no
ministério. Existia muita pressão de setores conservadores e fundamentalistas
para não aprofundarmos pautas como questões quilombolas, raciais, LGBTI, entre
tantas outras”, recordou.
Os avanços obtidos ao longo dos últimos anos, segundo
ela, são frutos de ações de um governo “democrático e popular”. “Estes temas
são considerados questões sociais que demandavam resposta do estado,
tornavam-se temas propositivos. Hoje estas pautas são vistas como
entraves”, disse a ex-ministra.
Desconstrução
Embora ações de desconstrução dos Direitos Humanos sejam
políticas de governo, de um projeto de Estado, elas igualmente encontram apoio
em setores da sociedade. “Quando esta leitura conservadora é implantada, estas
análises que demonizam os direitos humanos, elas encontram eco em uma parcela
da sociedade, em setores da classe média, na elite e inclusive de alguns
setores populares”, lamentou.
O retorno do Brasil ao mapa da fome, a aprovação da
Reforma Trabalhista que fragiliza ainda mais as relações de trabalho e atinge
diretamente mulheres e jovens, a PEC do teto de gastos públicos e a própria
intervenção militar no Rio de Janeiro, são golpes nos direitos humanos,
avalia a ex-ministra.
No caso da presença do exército nas ruas da capital
carioca, especialmente, Nilma avalia os reflexos sociais. “Não é apenas o
direito de ir e vir, mas o reforço da ideia de que os sujeitos considerados
suspeitos são os que estão nas vilas e favelas onde o exército está. Quando se
faz isso reforça a ideia de que esses sujeitos são considerados suspeitos
números 1 e eles devem ser exterminados”, exemplificou.
Marielle
Assassinatos de lideranças como Marielle, segundo a
ex-ministra, são reflexos destas políticas e, também, são um recado. “É uma
mensagem para quem luta pelos Direitos Humanos. Esta mensagem está sendo
transmitida das formas mais diversas para nós neste momento. É uma mensagem de
morte”, completou.
O ex-ministro dos Direitos Humanos de Lula, Paulo
Vannuchi, por sua vez, recordou as lutas que envolvem o tema ao longo da
história. Desde Zumbi dos Palmares, passando pela luta contra a ditadura e
pelas Diretas Já, até a morte da vereadora Marielle Franco em março deste ano.
Vannuchi também lembrou do movimento estudantil durante a
Ditadura Militar, destacando a atuação de José Dirceu, uma de suas principais
lideranças. Vannuchi recordou que Dirceu poderia estar a caminho de Curitiba,
um dos possíveis locais de detenção, enquanto o debate acontecia.
“Foi condenado a 30 anos de prisão, pena que nenhum
serial killer teve no Brasil, nenhum torturador do DOI-CODI que violentou
mulheres. Aliás, o discurso para prender justificado para não favorecer a
impunidade. Mas vem, coincidentemente, de quem sempre se opôs a punição destes
torturadores”, enfatizou.
Avanços
O ex-ministro também analisou os avanços dos direitos
humanos ao longo dos últimos governos, desde a redemocratização e aproveitou
para comentar a afirmação de que “não há liberdade sem igualdade e não há
igualdade sem liberdade”. Segundo Vannuchi, é impossível uma sociedade com
liberdade, igualdade e fraternidade com um modelo capitalista.
“Caso teu tenha uma empregada e entregue para ela metade
do meu salário, ainda assim não seremos iguais. Eu serei patrão. Uma sociedade
assim só poderá ser construída desde que deixe de existir a exploração da força
de trabalho de um ser humano por outro”, garantiu.
Edição:
Guilherme Henrique – Brasil de Fato
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