‘Deus é Mulher’: em novo disco, Elza Soares se mostra ainda mais ousada
As
onze faixas do álbum revelam uma visão crítica do atual momento e ampliam poder transformador da música da cantora.
“Mil nações moldaram minha cara/ Minha voz, uso para dizer o que se cala/ O meu país é meu lugar de fala.” É com esse grito de O que se Cala que Elza Soares abre seu novo disco, Deus É Mulher, lançado na semana passada pela Deck Disc, e já disponível em todas as plataformas digitais, entre elas Spotify, YouTube, Google Play, Deezer e SoundCloud.
23/05/2018
“Mil nações moldaram minha cara/ Minha voz, uso para dizer o que se cala/ O meu país é meu lugar de fala.” É com esse grito de O que se Cala que Elza Soares abre seu novo disco, Deus É Mulher, lançado na semana passada pela Deck Disc, e já disponível em todas as plataformas digitais, entre elas Spotify, YouTube, Google Play, Deezer e SoundCloud.
Foto: divulgação |
No texto de apresentação do álbum, a feminista e
pesquisadora na área de Filosofia Política, Djamila Ribeiro, descreve como se
sentiu ao escutar o novo álbum de Elza:
“Vemos uma Elza Soares cantando a partir de um lugar
potente, num elo com as gerações mais jovens. Como autora do livro O que
é Lugar de Fala, fiquei particularmente tocada em ver uma mulher como
ela, uma das maiores cantoras brasileiras, rompendo com silêncios históricos e
emprestando sua voz para amplificar as nossas. Uma generosidade para quem ainda
precisa se calar perante a vida. Elza fala por milhares, canta a liberdade”,
afirma a ex-secretária-adjunta da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania de
São Paulo.
Em 11 faixas inéditas, o álbum faz uma ode ao
empoderamento negro – especialmente das mulheres – a partir de letras
feministas, de afirmação política e estrofes que celebram as raízes afro. “Exu
nas Escolas é um grito pela ancestralidade, pela beleza de uma mitologia
que foi demonizada. Ode ao orixá da comunicação, a uma cosmogonia sufocada por
uma visão colonial. Um manifesto pela liberdade religiosa e cultural de um
povo”, analisa Djamila no release de divulgação.
A liberdade e o poder da mulher de fazer o que bem quiser
são cantados em Eu Quero Comer Você, Banho e Língua
Solta. Nesta última, a cantora fala da importância da coragem e da união:
“Vamos juntas que tem muito pra fazer/ Sem fingir que dá,
que dói, é só dizer/ Somos duas nós e todas nós/ Vamos levantar o sol// É dia
de falar/ E de ouvir também/ Com medo de careta, dou a mão/ E cala o horror/ A
cara feia, a noite escura/ Que a coragem é língua solta e solução// É dia de
encarar/ O tempo e os leões/ Se tudo é perigoso, solta o ar/ Escuta a maré/ A
lua, o rádio, a previsão/ Por nós só nós e um mundo inteiro pra gritar// Nós
não temos o mesmo sonho e opinião/ Nosso eco se mistura na canção/ Quero voz e
quero o mesmo ar/ Quero mesmo incomodar// Tem a voz que diz que não, não pode
ser/ Mas eu digo sim, que sim pro que eu quiser/ Sexo, pelo, prego e futebol/
Puta, presidente e cardeal”, canta.
“Deus é Mulher não é somente para ser ouvido,
mas para ser escutado. Evoca um poder transcendental e nos retira do lugar, nos
coloca em suspenso para conseguir absorver cada letra, palavra, estrofe. O
álbum promove um elo entre o sagrado e profano, um sagrado dessacralizado e um
profano potência”, declara Djamila. “A Mulher do Fim do Mundo, seu álbum
anterior e premiadíssimo, já nos mostrava uma Elza Soares feminista, consciente
do seu poder, colocando em roda questões tão caras para muitas de nós. 'Você
vai se arrepender de levantar a mão pra mim', tão forte e libertador, agora,
em Deus é Mulher, torna-se 'transforma cada homem em menino', porque agora
Deus é mãe. Deus é fêmea e linda. A mulher do fim do mundo, enfim, ocupa seu
lugar de divindade e se torna Deus e canta a revolução”, afirma a feminista e
filósofa que, mais que um release, escreve uma homenagem à Elza e à sua
importância para a música e as mulheres brasileiras.
O disco pode ser ouvido nas plataformas disponíveis no
link https://elzasoares.lnk.to/DeusEMulherPR.
Nenhum comentário