Mulher, indígena e empoderada
Taily
Terena é membro da Conselho Nacional de Mulheres Indígenas; ela luta por direitos e estimula meninas e mulheres da sua comunidade.
O preconceito contra os indígenas ainda é muito presente
na sociedade, que tem uma visão estereotipada do povo (e hipersexualizada da
mulher). “Quando o jovem tem que sair da sua aldeia para poder ir na cidade
estudar, ou trabalhar, porque os pais migraram, vem essa questão de você
aceitar sua identidade, se reconhecer como indígena e isso é muito difícil. Até
os dias de hoje, as pessoas que vão para a cidade acabam dizendo que não são
índios, são só descendentes”, relatou Taily.
Por Mélanie
Aguiar Layet* - Le Monde Diplomatique Brasil
15/06/2018
A comunidade Terena da aldeia Ipegue-Taunay, no Mato
Grosso do Sul, vive em clima de instabilidade e grande desafio para o
reconhecimento de seu território. Segundo relatório antropológico, aprovado
pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio), o processo de demarcação desta terra
está suspenso no Ministério da Justiça. A família de Taily Terena vive na
região e tem, diariamente, de lidar com os contratempos para resguardar os
direitos indígenas.
Foto: arquivo pessoal |
Filha de liderança indígena, Taily cresceu no ambiente de
luta pelos direitos garantidos na Constituição Federal. Ela sempre se envolveu
em causas que resguardassem os direitos do seu povo, valorização de sua
identidade e contra o preconceito que sua comunidade sofre. Por isso, a
jovem integra o grupo da juventude do Conselho Nacional de Mulheres Indígenas representando
os Terena e sua cultura.
Como membro da Comissão, Taily tem o trabalho (e desafio)
de compartilhar com os jovens a importância do povo indígena para o Brasil, sua
cultura, de sua comunidade e ainda, de mostrar o papel da mulher indígena nessa
engrenagem. Pelo fato de a cultura indígena ainda demarcar o papel da
mulher versus o papel do homem, seus rituais separados e outros
deveres, o povo Tarena entende que cada um tem um papel na construção de sua
cultura. Reuniões de comunidades, por exemplo, há somente a participação de
homens, a não ser que as mulheres sejam convidadas.
A mulher ainda tem um papel pontual na cultura indígena,
que é a de costurar os pontos entre manter a família, educar os filhos e passar
a tradição para os demais. “O papel da mulher indígena é manter viva a nossa
cultura e identidade. É manter vivo o nosso ser”, conta ela.
Mas, em sua comunidade, Taily já vê um progresso desse
papel imposto: “Na minha comunidade o que eu vejo é que as mulheres indígenas têm
ocupado outros espaços. Antigamente só homem podia ser pajé e hoje já temos
mulheres pajés que tem trazido seus saberes de cura”.
O trabalho que ela desempenha na Comissão tem ajudado,
principalmente, a mostrar para outras mulheres indígenas a relevância de seus
trabalhos manuais e fortalece-las. Saber o valor de seus produtos, arte e
artesanatos é uma maneira de empoderá-las, uma vez que ainda são os homens que
dão o valor aos seus trabalhos.
Por isso, exercendo essa função, elas também estão se
valorizando e dando mérito a sua história e sabedoria. “O fato é que queremos
mais oportunidade e qualidade na educação, porque isso poderia nos abrir
horizontes. Nós somos indígenas como identidade, mas podemos ser muito mais”.
Foto: arquivo pessoal |
A Comissão tem trabalhado fortemente para que os jovens
se reconheçam como indígenas e vejam a importância dessa cultura. “Ver jovens
postando nas redes sociais dizendo Orgulho de ser Terena, fotos com seus
trajes, pintura, saindo no dia do índio para dançar me dá muito orgulho, porque
sei que de certa forma eu plantei algum tipo de semente ali”, enfatizou Taily,
que concluiu: “Onde quer que eu esteja, eu vou ser Taily Terena. Taily como
pessoa, mas Terena como povo”.
*Mélanie Aguiar
Layet é jornalista e membro da delegação brasileira da 62ª Comissão
das Nações Unidas sobre a Situação das Mulheres, em Nova Iorque.
Texto publicado em 12 de junho de 2018 no site do Le Monde Diplomatique Brasil.
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