Pesquisa revela relação de suicídios com consumo de agrotóxicos
Brasil
é o maior consumidor de veneno do mundo; 20% do que é comercializado no planeta
é usado no país.
Por Ana
Carolina Caldas - Brasil de Fato
09/06/2018
Um trabalho de cerca de 8 anos, realizado pela Professora
Dra. Larissa Bombardi, da Universidade de São Paulo (USP), sobre o consumo de
agrotóxicos no Brasil, resultou no Atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no
Brasil e Conexões com a União Europeia. Os dados contidos no material,
levantados de 2007 a 2014, revelam que o Brasil é o maior consumidor de
agrotóxicos do mundo e o Paraná se destaca nas primeiras posições em
diferentes categorias, sendo o Estado com maior número de intoxicações e
suicídios causados por agrotóxicos direta ou indiretamente.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil em Fotos Públicas |
Ao todo no Brasil, segundo dados do Atlas, foram 9000
pessoas que cometeram suicídio devido ao uso de agrotóxicos, já que
a utilização continuada do veneno na produção agrícola aumenta as
chances de desenvolvimento de quadro depressivo e, com o avanço da doença,
cometerem a própria morte. Por ano, foram 1186 mortes. No Paraná, dos 3700
casos de intoxicação, foram 1633 causados por suicídios, seguido pelo estado de
Pernambuco que aparece em segundo lugar.
O tema foi debatido na Mesa "Consequências dos
Agrotóxicos à Saúde Humana e à Natureza", durante a 17º Jornada da
Agroecologia, realizada nesta semana em Curitiba (PR). Larissa destacou que os
dados foram colhidos a partir de diferentes fontes, porém, há muito ainda a ser
aprofundado. “Podemos afirmar que muitos casos não são divulgados, como, por
exemplo, os canceres e má formação fetal, que acabam não sendo contabilizados
como causados pelo uso de agrotóxicos”.
Ela explica que o Paraná surge nas primeiras colocações
por ser um Estado de grande produção agrícola, mas também por existir um
trabalho significativo de agentes como Ministério Público, Saúde Pública e do
Observatório do Uso de Agrotóxicos, consequências para saúde humana e ambiental
do Paraná, que fazem estes dados aparecerem a partir de denúncias.
Também presente na mesa de debates, o professor Paulo
Perna, do Departamento de Enfermagem da UFPR e também coordenador do
Observatório, explica que a ligação da causa de suicídio ao uso de agrotóxicos
é objeto de estudos. “Temos algumas explicações, pois o efeito que alguns
agrotóxicos produzem nas pessoas, o contato com algumas destas substâncias,
provocam alterações psicológicas graves, que levam os indivíduos ao
impulso de acabar com a vida. Isso aparece bastante, no Paraná, entre os jovens
e adolescentes ocupados nos processos de plantio com uso intenso de
agrotóxicos”.
O Observatório chegou a levar para o Governo do Estado do
Paraná duas propostas para diminuir o consumo de agrotóxicos, porém pouco se
fez a este respeito por parte do poder público.
Mais
veneno
O Brasil, segundo os dados do Atlas, consome 20% de todo
agrotóxico comercializado mundialmente. O consumo passou de 170.000 toneladas
no ano 2000 para 500.000 toneladas em 2014, sendo 135% de aumento. Para
Bombardi, “as causas estão vinculadas a lógica da economia brasileira
mundializada.
No lugar de privilegiarmos a produção de alimentos,
estamos privilegiando os produtos para exportação. Diminuímos as áreas de
arroz, feijão e mandioca e aumentamos cana, soja e milho, que são em grande
parte transgênicas”.
“A espinha dorsal de toda a questão é a manutenção da
propriedade privada da terra. O proprietário de terra tem um poder
incomensurável no Brasil. A fotografia disso é como o nosso Congresso está
composto e estamos sujeitos aos interesses destes proprietários e não ao
bem-estar comum”, conclui a pesquisadora.
Edição:
Laís Melo – Brasil de Fato
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