A empresa de palestras de Rosângela Moro
Negócio tem participação do advogado Carlos Zucolotto Jr. –
acusado de cobrar propina para intermediar delação premiada na Lava Jato.
Rosângela Moro com o marido, juiz de primeira instância em processos da Lava Jato em Curitiba.
Foto: Reprodução/Instagram |
Por Alice
Maciel – Agência Pública
31/07/2018
A advogada e esposa do juiz federal Sérgio Moro,
Rosângela Wolff Moro, abriu, em janeiro deste ano, uma empresa de cursos e
palestras no mesmo endereço do escritório de Vicente Paula Santos, listado como
advogado dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato Carlos Fernando dos
Santos Lima e Januário Paludo.
Rosângela possui três sócios na HZM2 Cursos e Palestras,
incluindo um amigo antigo da família e padrinho de seu casamento, o advogado
Carlos Zucolotto Júnior. O capital social é de R$ 20 mil. De acordo com dados
da Receita Federal, na rua Nilo Peçanha, 897, no bairro Bom Retiro, em
Curitiba, funcionam três empresas: HZM2 Cursos e Palestras, Zucolotto Sociedade
de Advogados e o escritório de advocacia Vicente Paula Santos Advogados Associados.
A nova sociedade entre Carlos Zucolotto Júnior e
Rosângela Moro, que já foram parceiros no escritório Zucolotto Sociedade de
Advogados, foi oficializada cerca de um mês depois de o ex-funcionário da
Odebrecht Rodrigo Tacla Duran ter acusado o amigo dos Moro, em depoimento à
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga a JBS, de ter
cobrado propina para intermediar sua delação premiada na Operação Lava Jato. O
advogado e o juiz Sérgio Moro negam. (Veja mais no final da matéria).
Empresa foi aberta no mesmo endereço do escritório de advogado de procuradores da Lava Jato. Foto: Henry Milleo/Agência Pública |
Vicente Paula Santos aparece como advogado de Carlos
Fernando dos Santos Lima em oito processos que tramitam e/ou tramitaram nos
Tribunais de Justiça Estadual e Federal do Paraná, no TJ de São Paulo, no
Supremo Tribunal Federal (STF) e no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O
processo mais antigo localizado pela Agência Pública é uma ação popular com
data do ano 2000. Ele foi encerrado no Tribunal Regional Federal da 4a Região
(TRF4), com causa ganha para os réus. O autor dessa ação, com base em uma
reportagem veiculada na imprensa informando o pagamento ilegal e irregular de
diárias aos integrantes do Ministério Público Federal, solicita que os
procuradores devolvam o dinheiro aos cofres públicos. Nesse mesmo processo,
Vicente Paula Santos defendeu também Januário Paludo, no STJ e em uma causa no
tribunal do Paraná.
Apesar de atualmente não constarem como sócios na Receita
Federal, Vicente Paula Santos e Carlos Zucolotto Júnior dividem escritório na
mesma casa – onde também foi registrada a HZM2 Cursos e Palestras. Os sites dos
dois escritórios de advocacia, Zucolotto Sociedade de Advogados e Vicente
Paula Santos Advogados Associados, inclusive, divulgam o mesmo número de
telefone. Além de Carlos Zucolotto e Rosângela Moro, participam do quadro
societário da HZM2 o advogado Guilherme Henn, que trabalha no Zucolotto
Sociedade de Advogados, e o professor de direito Fernando Mânica, que atua
também no ramo de consultoria para celebração de parcerias público-privadas.
Os procuradores, por meio da assessoria de imprensa do
Ministério Público Federal no Paraná, afirmaram à reportagem que o advogado
Carlos Zucolotto compunha a sociedade de advogados com Vicente Paula Santos até
2012, atuando na área trabalhista, e nunca participando efetivamente de
qualquer processo judicial que envolva os procuradores. Além disso, eles
informaram que nenhum dos membros da força-tarefa da Lava Jato possui ou já
possuiu relacionamento pessoal ou profissional com o advogado Carlos Zucolotto
Jr.
A Agência Pública
encaminhou algumas perguntas a Sérgio Moro através da assessoria do TRF em 5 de
julho, para esclarecer a sua relação com a HZM2, uma vez que ele é muito
requisitado como palestrante no Brasil e no exterior. O juiz reiterou sua
negativa sobre as acusações de Tacla Duram e escreveu que “quanto as demais
perguntas, são meramente especulativas e que partem de um pressuposto
equivocado.” Afirmou ainda que não vai manifestar-se sobre o assunto.
A reportagem tentou contato com a advogada Rosângela Moro
em seu escritório de advocacia, mas ninguém atendeu. Também foi encaminhado
e-mail, sem resposta. A Pública também
enviou os questionamentos para o sócio de Rosângela, Guilherme Henn e pediu
para que ele respondesse as perguntas e as encaminhasse à Rosângela. Por
telefone, Guilherme disse que Rosângela estava viajando, mas iria tentar falar
com ela. Guilherme e Rosângela não deram nenhum retorno até o fechamento desta
edição. Também entramos em contato com o advogado Carlos Zucolotto por e-mail e
no escritório de advocacia. No mesmo contato, a Pública procurou Vicente Paula
Santos, mas a secretária pediu para que fosse encaminhado um e-mail ao advogado
Zucolotto que ele enviaria também a Vicente. A Pública destinou a mensagem para
os dois advogados, sem resposta até a publicação da reportagem.
Sérgio
Moro, o palestrante
Entre janeiro de 2017 e julho de 2018, o juiz ministrou
ao menos 22 cursos e palestras no Brasil e no exterior – um por mês, em média.
O levantamento foi feito pela Pública com base em notícias veiculadas na
imprensa nacional e internacional e com informações do portal da transparência
do TRF4. A reportagem pediu ao órgão, via Lei de Acesso à Informação, dados de
todos os cursos e palestras ministradas pelo juiz nos últimos cinco anos. Foram
questionados: o honorário recebido, o contratante, local e data do evento. Em
resposta, o tribunal disse que as informações estavam disponíveis no site e que
a administração da corte havia solicitado aos magistrados que
“atualizassem os registros sobre o exercício de docência eventual no sistema de
recursos humanos”.
Porém, além dos dez eventos que contaram com a
participação de Moro desde 2017, divulgados no portal do órgão, a Pública encontrou outros 12 que
ocorreram no mesmo período e não estão listados. Entre eles, as participações
do juiz em congressos internacionais, como as palestras que ele deu este
ano no Fórum do Grupo Lide – criado pelo ex-prefeito João Doria (PSDB) – em
Nova York; no Brazil Fórum 2017, em Londres; e no Brazil Conference, nos
Estados Unidos. Não está claro se houve pagamento por essas palestras.
O Lide Brazilian Investment Forum é realizado anualmente
em Nova York e “reúne empresários e investidores nacionais e internacionais
para debater relações bilaterais entre Brasil e Estados Unidos”. O evento
contou este ano com patrocínio de quatro empresas: dois escritórios de
advocacia; da empresa Cosan, que atua em setores como agronegócio, distribuição
de combustíveis e gás natural; e da empresa de segurança Gocil Seguranças e
Serviços.
Já o Brazil Fórum é organizado por estudantes brasileiros
no Reino Unido desde 2016, na London School of Economics and Political Science,
na cidade de Londres, e na Universidade de Oxford, na cidade de Oxford. O
evento foi patrocinado por escritórios de advocacia, embaixada brasileira em
Londres, empresas como Uber e Latam e a Fundação Lemann. Assim como o Brazil
Fórum, o Brasil Conference at Harvard & Mit é organizado por estudantes
brasileiros e também contou com o patrocínio da Fundação Lemann e de
escritórios de advocacia, além do apoio de empresas como a Azul, a Ambev, o
grupo Boticário e o banco BTG Pactual.
A Resolução 226/2016 do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) determina que o exercício de qualquer atividade docente por magistrado
“deverá ser comunicado formalmente ao órgão competente do Tribunal, mediante
registro eletrônico em sistema por ele desenvolvido, com a indicação da
instituição de ensino, do horário e da(s) disciplina(s) ministradas”. O CNJ
reconhece cursos e palestras como atividade docente.
Além disso, o texto da resolução diz que o Conselho e a Corregedoria
Nacional de Justiça promoverão o acompanhamento e a avaliação periódica das
informações.
Ao ser questionado sobre o controle desses dados, no
entanto, o CNJ, por meio da assessoria de imprensa, ressaltou que não possui as
informações consolidadas sobre a participação dos magistrados em atividades de
docência.
O órgão argumentou que atua mediante notícia ou denúncia
de irregularidade, com abertura de processo próprio, “devendo os tribunais
disporem das informações conforme previsto na resolução”.
“Quanto a punições de magistrados por infração a estas
resoluções, ainda não houve casos de punição aplicada”, acrescentou o Conselho.
Apesar de não revelar o valor que cobra para dar aulas,
cursos ou palestras, Sérgio Moro informou, entre os dez eventos listados no
portal da Justiça Federal no Paraná, que recebeu cachê em quatro situações: nos
cursos ministrados na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS) sobre corrupção e negócios, no curso de Formação Inicial na Carreira da
Magistratura da 4ª Região, em Porto Alegre, e no Curso Direito Penal e
Processual – Temas Contemporâneos, em Curitiba.
A Pública
entrou em contato com a PUCRS para saber o valor do pagamento ao juiz e se a
empresa da sua mulher intermediou as negociações. A universidade informou que
Moro é professor convidado do curso Finanças, Investimentos e Banking (FIB) do
Pós PUCRS Online. “Nesta data, dia 10 de abril, ele foi convidado pela
Universidade e ministrou a disciplina Direito e Crimes Financeiros deste curso.
O FIB é uma parceria com a empresa UOL Edtech. Por políticas internas da PUCRS,
os valores de pagamentos do corpo docente não são divulgados”, respondeu a
assessoria de imprensa.
O TRF4 informou, por meio da assessoria de imprensa, que
todos os valores recebidos pelos magistrados são “necessariamente informados na
declaração de ajuste anual, a qual é submetida à Receita Federal e ao TCU” e
que “o sistema para registro de docência eventual deste Tribunal, na forma da
Resolução nº 34/2007 do CNJ, prevê a inserção de informações como data, tema,
local e entidade promotora do evento (art. 4º-A, § 1º).”
“No Portal da Transparência, para melhor visualização das
informações mais relevantes, não aparece o campo da entidade promotora, que
pode ser informada a qualquer tempo aos interessados, caso necessário”, disse o
órgão. “Esta Corregedoria não possui registro da participação do Juiz Federal
Sérgio Fernando Moro em evento no dia 16-05-2018. Cabe informar, em
complementação, que no período de 11-05 a 19-05-2018 referido Juiz Federal
esteve em férias”, acrescentou. Como o juiz Sérgio Moro está de férias, a
assessoria do TRF4 não conseguiu responder o motivo das outras palestras
levantadas pela reportagem não estarem listadas no portal da transparência.
Palestras
e congressos aproximam empresas do Judiciário
Os juízes não são obrigados a dizer o valor que recebem
pelos cursos e palestras nem quem as paga. Isso impede, no entanto, que a
sociedade saiba quem são as empresas que desembolsam dinheiro nesses contratos,
e a possível influência que elas poderiam ter sobre os magistrados, na hipótese
de contratá-los por altos cachês. A Articulação Justiça e Direitos Humanos
(JusDh), uma rede nacional de organizações que lida com ações judiciais em
temas de direitos humanos, entregou, em abril, ao relator especial das Nações
Unidas sobre independência dos juízes, Diego García-Sayán, um documento
denunciando o patrocínio empresarial de eventos e o pagamento de honorários
como formas de captura corporativa do Judiciário. Uma denúncia com teor
parecido já foi encaminhada pela entidade à presidente do CNJ, Cármen Lúcia.
Desde 2009, organizações que integram o JusDh alertam
sobre essa prática. Naquele ano, eles denunciaram o XX Congresso da Associação
dos Magistrados Brasileiros (AMB), que foi financiado pela Confederação
Nacional da Agricultura e contou com palestra da então presidente,
representante do agronegócio, Kátia Abreu. “Para nossas organizações, esse foi
um alerta de que o Judiciário escolheu um lado para ouvir, e esse lado não foi
o dos movimentos sociais que historicamente lutam pelo direito à terra”,
afirmou a advogada e coordenadora da Terra de Direitos, Luciana Pivato.
A JusDh destaca também o XXI Congresso da AMB, em 2012,
financiado pela Norte Energia, responsável pela construção da hidrelétrica de
Belo Monte. O congresso ocorreu em Belém, com participação de cerca de 1.500
juízes, no momento em que as organizações denunciavam as violações decorrentes
da construção do megaempreendimento. Em 2015, a mineradora Anglo American, com
denúncias de violações de direitos humanos, patrocinou o I Congresso Mineiro
sobre Exploração Minerária, organizado pela Associação dos Magistrados de Minas
Gerais. O diretor jurídico da mineradora, Gerson Ferreira do Rêgo, foi um dos
palestrantes do painel com o tema “Exploração Minerária: Evolução e
Perspectivas”. No mesmo ano, ocorreu o desastre ambiental de Mariana. “Nossas
organizações estão preocupadas com a prática recorrente de patrocínio, aliada à
presença de temas de interesse das empresas, conferidos muitas vezes por
palestrantes que representam seus interesses”, acrescentou Luciana.
A AMB informou, por meio de sua assessoria de imprensa,
que os eventos organizados pela entidade seguem as orientações da Resolução
170/2013 do CNJ. A norma determina que os eventos promovidos por magistrados ou
órgãos da magistratura podem contar com até 30% de recursos de entidades
privadas.
Segundo a resolução, “a documentação relativa aos
congressos, seminários, simpósios, encontros jurídicos e culturais e eventos
similares, quando realizados por órgãos da Justiça submetidos ao Conselho
Nacional de Justiça, inclusive as Escolas Oficiais da Magistratura, ficará à
disposição do CNJ para controle, bem como de qualquer interessado”. O CNJ
informou à Pública que também não possui a consolidação de dados sobre esse
assunto e que nunca houve casos de punição aplicada.
Na avaliação da JusDh, a participação de empresas deveria
ser proibida. “Sempre é importante lembrar que juízes e juízas são pessoas
iguais a todo mundo e também podem sofrer influências da realidade que os
cerca. Participar de eventos e seminários patrocinados por entidades com
interesses judiciais, como os casos citados anteriormente, pode ter o mesmo
efeito que participar de um ‘curso imersivo’ sobre por que tais entidades
teriam razão nos processos”, compara o representante da Conectas Direitos
Humanos, João Godoy.
Cobranças
por palestras a partir de R$ 40 mil
Apesar da falta de transparência quando o assunto é o
cachê, há casos em que os valores de contratos negociados com órgãos públicos
acabaram vindo à tona.
Para justificar a regularidade e licitude da celebração
de um contrato com a empresa Supercia Capacitação e Marketing, pelo qual estava
previsto o pagamento de R$ 46,8 mil por uma palestra do ministro do STF Luís
Roberto Barroso, a Escola Superior de Contas do Tribunal de Contas de Rondônia
(TCE-RO) listou, em um documento ao qual a reportagem teve acesso, outros casos
em que valores teriam sido negociados ou pagos para palestras de outros
ministros do Supremo.
Um exemplo, segundo o documento, seria um pagamento ao
ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, em palestra na Câmara dos Vereadores de
Itajaí (SC), em 13 de abril de 2015, no valor de R$ 60 mil; outro, ao ministro
Luiz Fux, em palestra contratada pelo governo de Minas Gerais, realizada em 8
de maio de 2015, por R$ 40 mil.
A Escola Superior de Contas coletou essas informações em
reportagens publicadas na imprensa. Em uma delas, Joaquim Barbosa disse não
saber que o recurso viria do órgão público. Já Fux pediu a suspensão do
pagamento após ser informado pela reportagem da Folha de S Paulo.
O documento afirma ainda que a Escola Superior de Contas
(ESCon), em 2017, pleiteou um contrato, não assinado, com Joaquim Barbosa e
recebeu a proposta da empresa Supercia Capacitação e Marketing no valor de R$
121 mil.
O documento, assinado pelo diretor-geral da Escola
Superior de Contas, Raimundo Oliveira Filho, informa também sobre a
rescisão do contrato do órgão com a Supercia no caso da palestra de Luís
Roberto Barroso orçada em R$ 46,8 mil.
O ministro receberia esse valor por uma hora de fala no
VII Fórum de Direito Constitucional e Administrativo Aplicado aos Tribunais de
Contas, marcada para o dia 18 de maio. “No que toca à contratação da empresa
Supercia Capacitação e Marketing Ltda., pessoa jurídica de direito privado, com
atuação de 22 anos nesse mercado específico, temos a dizer que esta se
apresentou, conforme os documentos juntados aos autos, como ofertante da agenda
para palestra do palestrante/doutrinador de renome nacional, Luís Roberto
Barroso”, informa o documento.
O valor do contrato para a palestra do ministro foi
divulgado na imprensa. O magistrado afirmou, à Folha de S.Paulo, na época, que
foi convidado para falar na cidade, mas negou ter sido contratado pelo TCE e
cobrado o valor anunciado por sua participação. Ao jornal, ele disse ainda que
não firma contratos com órgãos públicos. “Não tenho a menor ideia de que valor
é este. É um valor completamente fora do padrão, fora do que eu cobro”,
ressaltou Barroso.
Após tamanha visibilidade, o contrato entre o TCE de
Rondônia e a Supercia foi rescindido e o ministro acabou indo ao local para
divulgar um livro, sem custos para o tribunal.
As
acusações de Tacla Duran
Foragido na Espanha, Rodrigo Tacla Duran é apontado pela
Justiça como o operador da Odebrecht no esquema de corrupção que desviou
recursos da Petrobras. As suas declarações foram feitas por videoconferência a
parlamentares em 30 de novembro do ano passado.
Segundo Tacla Duran, Carlos Zucolotto o procurou em 2016,
com a proposta de fazer contatos com integrantes da força-tarefa para reduzir
sua pena e a multa, no valor de US$ 15 milhões, para US$ 5 milhões, caso o
ex-funcionário da Odebrecht firmasse o acordo. Em troca, no entanto, ele teria
pedido US$ 5 milhões “por fora” para pagar pessoas que o ajudariam nessa
empreitada. As conversas teriam ocorrido por meio de texto em um aplicativo de
mensagens de celular e teriam sido fotografadas por Tacla Duran.
À Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, o advogado
entregou as imagens do diálogo e uma perícia feita por autoridades espanholas –
a pedido dele – referendando a veracidade da conversa. Tacla Duran disse que
Zucolotto era representante de seu escritório de advocacia em Curitiba, por
isso já o conhecia.
O sócio de Rosângela Moro negou as acusações. O juiz
federal saiu em defesa do amigo e dos procuradores da Lava Jato. Moro divulgou
uma nota em 27 de agosto dizendo que Zucolotto “é advogado sério e competente,
atua na área trabalhista e não atua na área criminal”. Segundo Moro, o relato
de que Zucolotto teria tratado com Tacla Duran sobre acordo de colaboração
premiada é “absolutamente falso”. O juiz disse ainda que nenhum dos membros do
Ministério Público Federal da força tarefa em Curitiba confirmou qualquer
contato de Zucolotto sobre o referido assunto ou sobre qualquer outro.
“Porque de fato não ocorreu qualquer contato”,
acrescentou. Na nota, o juiz federal desqualificou as acusações de Tacla Duran
ao reforçar seu envolvimento no esquema de desvio de dinheiro. “Rodrigo Tacla
Duran é acusado de lavagem de dinheiro de milhões de dólares e teve a sua
prisão preventiva decretada por este julgador, tendo se refugiado na Espanha
para fugir da ação da Justiça”, disse.
De acordo com o Ministério Público Federal, o escritório
de advocacia de Tacla Duran movimentou R$ 54 milhões em propinas a pedido de
construtoras envolvidas no esquema de fraudes de licitações da Petrobras.
Logo depois de a denúncia de Tacla Duran ter sido
divulgada, Carlos Zucolotto renunciou à defesa dos procuradores da força-tarefa
da Lava Jato Carlos Fernando dos Santos e Januário Paludo em processos que
tramitam no STJ em que eles solicitam, individualmente, aumento retroativo de
subsídios.
A respeito das acusações feitas por Tacla Duran, os
procuradores responderam à Agência
Pública por meio da assessoria de imprensa do Ministério Público Federal no
Paraná:
“Rodrigo Tacla Duran foi acusado pela força-tarefa da Lava Jato
por crimes de lavagem de dinheiro e de pertinência à organização criminosa, e
se encontra foragido do país e confinado na Espanha. Os recursos
ilícitos obtidos por Rodrigo Tacla Duran da Odebrecht, no exterior,
foram bloqueados por autoridades estrangeiras e permanecem nessa condição.
A força-tarefa também solicitou a prisão de Rodrigo Tacla Duran, sendo
requerida a difusão vermelha junto à Interpol para a sua prisão no exterior.
Tacla Duran foi preso na Espanha e chegou a ter sua extradição autorizada para
o Brasil, o que não ocorreu apenas por ausência de promessa de reciprocidade
pelo governo brasileiro. As inverdades propaladas por Rodrigo Tacla Duran não
revelam mais do que a total falta de limites de um criminoso foragido da
Justiça, acusado da prática de mais de 100 delitos de lavagem de dinheiro, cujo
patrimônio – ilicitamente auferido – encontra-se bloqueado no Brasil e no
exterior. Diante da absoluta impossibilidade de enfrentar os fatos criminosos
que lhe são imputados, Rodrigo Tacla Duran tenta desesperadamente atacar
aqueles que o investigam, processam e julgam, no intuito de afastar o seu caso
das autoridades que atuam na Operação Lava Jato”.
*Reportagem publicada originalmente em 25 de julho de 2018 no site da Agência Pública.