‘Brasil é obrigado a cumprir pedido sobre Lula', diz vice-presidente de comitê da ONU
A norte-americana
Sarah Cleveland afirmou que decisão sobre direitos políticos do ex-presidente deve ter
efeito imediato.
Por Crítica21 – com informações do UOL, ONU Brasil e RBA
Por Crítica21 – com informações do UOL, ONU Brasil e RBA
17/08/2018
Na manhã desta sexta-feira (17) o mundo tomou
conhecimento da posição do Comitê de Direitos Humanos da ONU sobre a situação
política do ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva. E o órgão decidiu
que o petista, mesmo preso, precisa ter seus direitos políticos assegurados, como
candidatar-se nas eleições presidenciais. O órgão afirma que isso inclui acesso
apropriado à imprensa e a membros de seu partido político.
Escritório do Alto Comissariado da ONU
para os Direitos Humanos, sediado em Genebra.
Foto: ONU/Jean-Marc
Ferrer
|
Setores do governo de Michel Temer e da mídia
conservadora tentaram rebaixar a decisão da ONU, mas – em entrevista por telefone ao repórter Gustavo Maia, do UOL – a vice-presidente do Comitê de
Direitos Humanos da ONU, a norte-americana Sarah Cleveland, afirmou que o
Brasil tem a "obrigação legal" de cumprir o pedido do órgão
para permitir que Lula dispute a Presidência.
Segundo Sarah – que também assinou o documento em favor
dos direitos de Lula -, a solicitação é uma “medida urgente” que deve ter efeito imediato.
Ela afirmou que o Brasil “é um signatário de tratados, e a posição do comitê é
que o Brasil tem obrigação legal de cumprir o pedido”.
"Em outras palavras, o Brasil é legalmente obrigado a acatar", acrescentou a jurista. Caso não cumpra, explicou Sarah, o Estado brasileiro estaria "violando" as suas obrigações legais sob o Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos.
"Em outras palavras, o Brasil é legalmente obrigado a acatar", acrescentou a jurista. Caso não cumpra, explicou Sarah, o Estado brasileiro estaria "violando" as suas obrigações legais sob o Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos.
Conforme nota divulgada no site da ONU Brasil, o Comitê solicitou que o Brasil não impeça Lula de concorrer às
eleições presidenciais de 2018 até que seus recursos na justiça tenham sido
julgados por completo, em procedimentos judiciais justos.
Segundo o órgão, o nome técnico para o pedido feito nesta
sexta-feira é “medida provisória” (“interim measures”) e está relacionado a uma
reclamação individual que ainda está sob apreciação do Comitê, aguardando análise
do mérito.
Para o diplomata Paulo Sérgio Pinheiro - ex-ministro
de Direitos Humanos no governo Fernando Henrique Cardoso – o Estado brasileiro
deve acatar a decisão do Comitê. Em entrevista à Rádio Brasil Atual, Pinheiro destacou o
peso da decisão e a relevância do órgão, que tem jurisprudência reconhecida
pelo ordenamento jurídico brasileiro.
Competência
"O Brasil se obrigou a cumprir as decisões exaradas pelo Comitê de Direitos Humanos. É uma decisão de um órgão que o Brasil reconheceu a sua competência. Não se trata de uma opinião de uma consultoria internacional qualquer", disse Pinheiro, que também é professor aposentado de Ciência Política da USP.
"O Brasil se obrigou a cumprir as decisões exaradas pelo Comitê de Direitos Humanos. É uma decisão de um órgão que o Brasil reconheceu a sua competência. Não se trata de uma opinião de uma consultoria internacional qualquer", disse Pinheiro, que também é professor aposentado de Ciência Política da USP.
Esse também é o entendimento do diplomata Celso Amorim –
que foi ministro das Relações Exteriores nos governos Itamar Franco e Lula, além de ministro da Defesa no governo Dilma. Em coletiva de imprensa
junto com Pinheiro e os advogados Cristiano Zanin e Valeska Martins, Amorim afirmou
que o Brasil tem que cumprir a decisão. “Não há opção. Se o Brasil não cumprir,
está se colocando como um pária internacional”, afirmou.
O diplomata criticou a nota do Itamaraty, emitida na
tarde desta sexta-feira, segundo a qual o pedido do Comitê da ONU seria apenas
uma recomendação. “Como ex-chanceler, acho lamentável que tenha saído essa
nota, que é uma contradição, porque reconhece os tratados, mas diz que é uma
recomendação. Não é uma questão de opinião, é uma questão técnica.”
Edição:
Anderson Augusto Soares – Crítica21