Estamos com Lula
Em
artigo, ex-prefeito de Londres escreve sobre a prisão
política de Lula e o golpe no Brasil.
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Foto: divulgação |
Por Ken
Livingstone*
11/08/2018
Precisamos
intensificar as campanhas de solidariedade internacional pela liberdade de
Lula, pela democracia e pelo progresso social no Brasil.
Como muitos que seguem a América Latina saberão, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está detido em uma prisão desde o dia
07 de abril. Sua prisão está sendo largamente condenada pela Organização
Internacional do Trabalho e pelo movimento sindicalista como politicamente
motivada.
Somente no último mês, o Unite, maior sindicato da
Grã-Bretanha, e a AFL-CIO (Federação Americana do Trabalho e
Congresso de Organizações Industriais), maior central operária dos Estados
Unidos, demonstraram apoio à campanha de libertação de Lula. O Unite também
expressou sua solidariedade ao movimento sindicalista brasileiro e demandou o
fim aos ataques à democracia e ao progresso social que estão acontecendo no
Brasil desde o golpe de 2016.
O “golpe parlamentar” fez Dilma Roussef – que recebeu 54
milhões de votos – ser removida da presidência sem um único voto do povo
brasileiro. Incrivelmente, apesar de Lula estar agora na prisão – e apesar dos
difundidos e persistentes ataques para manchar a imagem de Lula concebidos pela
mídia privada brasileira nos últimos anos – as pesquisas de opinião mostram que
ele é ainda o líder nas escolhas dos brasileiros para a eleição presidencial de
outubro.
Lula enfrentou esse julgamento feito pela mídia como
parte de uma campanha acordada contra ele, em que seus direitos humanos básicos
foram violados. Quando o ex-presidente foi condenado por “atos indeterminados”
sem nenhuma evidência material providas contra ele, a parcialidade e a
injustiça do caso tornaram-se claras; porém, Lula e seus apoiadores continuam
lutando.
Lula permanece o político mais popular no Brasil porque
ele governou um período de sucesso, retirando milhões da pobreza com seus
programas sociais inovadores que reduziram a desigualdade.
Quando eu era prefeito de Londres, tive o privilégio de
conhecer Lula. Era absolutamente claro para mim que melhorar a vida dos
brasileiros era sua paixão e sua razão para estar envolvido na política. Como a
secretária geral da Confederação Sindical Internacional Sharan Burrow
disse recentemente: “A democracia deve ser restabelecida urgentemente. A única
maneira de atingir isso é através de eleições justas e democráticas em que Lula
tenha o direito de ser candidato”.
Entretanto, essa luta não é apenas sobre um único homem.
Nós devemos nos posicionar perante à democracia e ao progresso social no
Brasil. E devemos demonstrar solidariedade a todos os movimentos em todo o país
que estão resistindo ao golpe de governo.
Desde o verão de 2016, o governo não-eleito do Brasil
impôs medidas neoliberais de linha dura, incluindo um congelamento de gastos
públicos de 20 anos e planos de privatizar a companhia estatal de petróleo. De
fato, o atual governo de direita não-eleito no Brasil é tão ruim que a
definição de escravidão foi afrouxada com uma medida controversa criticada pelo
relator especial das Nações Unidas. Ele disse que o decreto do governo
“enfraqueceria a proteção às populações pobres e excluídas que são vulneráveis
à escravidão”.
Tudo isso foi feito sem nenhum endosso eleitoral e o
atual presidente possui um índice de popularidade de 2%. Além disso, a prisão
de Lula foi acompanhada pelo aumento da repressão por parte do governo atual do
presidente não-eleito, incluindo a destruição de direitos conquistados pelos
sindicatos; a repressão de protestos de movimentos sociais; e os últimos
eventos particularmente preocupantes, como o assassinato politicamente motivado
da vereadora socialista, negra e bissexual Marielle Franco, em março.
Não obstante, a resistência continua por todo o país
contra o governo ilegítimo através de greves, protestos, ocupações, entre
outros. A dura realidade é que 54 milhões de brasileiros votaram em um
presidente de esquerda, mas tiveram um presidente de direita imposto sobre
eles. Aparentemente, eles estariam enfrentando uma escolha apenas entre
candidatos de direita ou candidatos centristas na próxima eleição, se Lula
fosse mantido fora das urnas.
Felizmente, a esquerda brasileira se uniu em torno da
situação do líder mundial preso e um acordo foi feito para Fernando Haddad,
ex-prefeito de São Paulo, concorrer em seu lugar, se for negado o direito
de concorrer a Lula. Apesar de ter um substituto, Lula é o candidato e o
próprio Haddad disse que vai “viajar por todo o país levando a voz de Lula”.
Está claro que milhares de progressistas ao redor do mundo não estão desistindo
de Lula e de seus ideais.
A menos que façamos tudo o que pudermos
internacionalmente para Lula, a democracia em um dos países mais populosos e
diversos do mundo será desviada pela segunda vez em dois anos. Com as políticas
do governo do golpe já prejudicando o bem-estar social e os cuidados de saúde
para os mais pobres do país, a luta no Brasil pela democracia e pelo progresso
social também é nossa luta.
E essa luta também é importante em termos mais amplos na
América Latina para o futuro dos movimentos progressistas e dos sindicatos. A
administração Trump apoiou os passos para trás no Brasil, e isso é parte de uma
tendência preocupante dos EUA de apoiar governos e movimentos reacionários,
direitistas e antitrabalhistas na região.
O futuro de Lula, e se ele poderá se candidatar, será
decidido na próxima semana. Vamos intensificar a pressão internacional para que
a impressionante vitória da esquerda no México no mês passado não seja o único
grande ganho para os progressistas na América Latina este ano.
*Ken Livingstone foi prefeito de Londres entre 2000 e
2008. Ele também manifestou apoio a Lula no Twitter e no Facebook.
O artigo traduzido foi publicado neste sábado (11) na página oficial de Lula;
o original, publicado no dia anterior, pode ser lido AQUI.