‘Foram com sangue na boca para tirar Lula da eleição’, diz ex-chefe da PF sobre Lava Jato
Delegado Paulo Lacerda critica protagonismo do
MPF e diz que tribunal furou a fila para condenar o ex-presidente.
Com
informações da Agência Pública
08/08/2018
Paulo Fernando Lacerda nunca teve vinculação com o Partido
dos Trabalhadores e recebeu com surpresa o convite para participar do Governo
Lula em 2003. Na época, ele trabalhava como assessor de Romeu Tuma no Senado, prestando
serviços ao PFL (atual DEM) em CPIs do Congresso. “Nunca participei e nem tenho
qualquer vínculo com a política, mas jamais imaginei que o PT chamaria alguém
que estava trabalhando para o PFL, que era seu principal adversário”, disse
Lacerda à Pública.
Com Paulo Lacerda à frente, PF tornou-se uma espécie de “ilha de excelência” no primeiro governo de Lula. Foto: Marcello Casal Jr./ABr
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Escolhido por Márcio Thomaz Bastos, então ministro da
Justiça, o delegado ficou com a incumbência de reestruturar a Polícia Federal,
com liberdade para combater a corrupção enraizada na relação entre empresários
financiadores da política e os poderes da República. Lacerda recebeu carta
branca do próprio Lula, apresentado a ele por Thomaz Bastos. “Vamos fazer
grandes mudanças. Você terá todo o apoio. O que o Márcio disser está ok”, disse
o ex-presidente, conforme se recorda o delegado.
À Pública, Lacerda
afirmou que a primeira ação concreta nesse sentido foi “o esforço que resultou
num empréstimo internacional de US$ 500 milhões destinados a equipar e
modernizar a polícia, contratar mais servidores e melhorar os salários dos
policiais”. Depois de liberado o recurso, o delegado afirmou que a PF conseguiu
comprar o que havia de mais moderno em tecnologia para equipar a polícia em
todas as áreas de investigação, além de aumentar o efetivo da PF de 8 mil para
15 mil “apenas com a convocação dos candidatos que já haviam sido aprovados em
concursos”, ampliar o Instituto Nacional de Criminalística e “dar uma boa arma
para cada policial, a pistola Glock”, contou Lacerda.
Com isso, a PF passou a organizar uma série de grandes operações,
inclusive contra políticos e funcionários públicos. Conforme destaca a reportagem
da Pública, a PF tornou-se uma
espécie de “ilha de excelência” na área de investigações, no primeiro governo
do ex-presidente Lula. No início do segundo mandato, por medo e pressão da base
governista – e já desgastado – o delegado foi substituído e transferido para a
ABIN (Agência Brasileira de Inteligência).
Lava
Jato
Hoje aposentado, Lacerda critica os exageros da Operação
Lava Jato e o protagonismo do MPF (Ministério Público Federal), que teria se
aproveitado de um “recuo” da PF na ofensiva contra políticos para ocupar o
espaço, de carona nas manifestações de 2013 e promovendo campanhas contra a
corrupção. Depois criariam uma força-tarefa e assumiriam a paternidade da Lava
Jato, iniciada pela PF.
Na entrevista à Pública,
o delegado falou sobre delação premiada e conflito entre a PF e o MPF sobre
quem deve conduzir as investigações. Sobre o caso do tríplex atribuído a Lula,
ele disse que o roteiro seguido pelos investigadores revela que a intenção de
desconstruir Lula politicamente foi mais forte do que o combate à corrupção.
“Foram com sangue na boca. A ideia era tirar Lula do processo eleitoral. Para
julgá-lo rapidamente, o tribunal furou a fila. Antes do processo do tríplex,
havia mais de cem casos esperando para entrar na pauta”, disse Lacerda.
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