Aposentado aos 33, Bolsonaro recebe uma fortuna em aposentadorias acumuladas
Na eleição, o então
candidato criticou a reforma de Temer (“falta de humanidade”) e disse que não levaria “miséria”
aos aposentados por exigência do mercado.
Por Hypeness
22/02/2019
A proposta de reforma da Previdência foi
entregue em mãos por Jair Bolsonaro a Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da
Câmara dos Deputados. O texto é polêmico, sobretudo pelo aumento do tempo de
contribuição.
Por Hypeness
22/02/2019
Bolsonaro
dois anos antes de se aposentar (1986). Foto: Luiz Pinto/Agência O Globo |
A idade mínima de aposentadoria para mulheres passaria
de 62 anos. Homens, 65. Beneficiários terão que contribuir por no
mínimo 20 anos. A partir de 2024, a idade mínima sobe de acordo com a
expectativa de vida do brasileiro. Segundo o IBGE, a expectativa de vida hoje
está em 76 anos.
Com reajuste no início do ano, aposentados e pensionistas
do INSS recebem salário mínimo de R$ 998. Diferente do proposto pela
equipe econômica comandada por Paulo Guedes, o presidente da
República se aposentou do Exército aos 33 anos, ganhando salário de R$ 10
mil. Como ex-deputado federal, o político tem direito a mais R$ 27
mil. Total de 37 mil, apenas de aposentadoria. E claro, o salário R$
30 mil pela presidência. Ao deixar o Palácio do Planalto, Bolsonaro
receberá R$ 28 mil ao mês.
Em 1988, Jair Bolsonaro foi afastado do Exército aos 33
anos e com 15 anos de serviços prestados. Desde então, recebe aposentadoria de
capitão 63% acima do teto do INSS. Brasileiros que ganham acima de um
salário mínimo vão ter que contribuir por 40 anos para conseguir se
aposentar com 100% do salário-teto do INSS, atualmente na casa dos R$
5.839.
Especialistas enxergam com ressalvas os baixos
valores das aposentadorias. O temor é que aconteça no Brasil o mesmo que
ocorreu no Chile. O país foi um dos primeiros a implementar o modelo de
capitalização no início da década de 1980. O valor pago é menor que o
salário mínimo e o governo chileno precisou criar um fundo estatal para
garantir uma pensão mínima para os que não contribuíram com o sistema.
“No Brasil, há muitos trabalhadores rurais e informais
que não têm uma renda regular. Pode ser que eles cheguem à idade de se
aposentar e não tenham dinheiro suficiente para se manter”, afirmou ao UOL Kaizô Beltrão, professor da Escola Brasileira de
Administração Pública e de Empresas da FGV-Rio.
Para
especialistas, mínimo baixo é problema
Em pronunciamento em cadeia de rádio e TV, Jair Bolsonaro
defendeu o governo. O presidente disse que a reforma é necessária para o equilíbrio
das contas públicas. “Hoje, iniciamos o processo de criação de uma nova
Previdência. É fundamental equilibrarmos as contas do país para que o sistema
não quebre, como já aconteceu com outros países e em alguns estados
brasileiros”, pontuou.
Analistas dizem o contrário e indicam impactos
financeiros menores do que o esperado. O governo federal estima economia
de R$ 1,1 trilhão, no entanto bancos e consultorias acreditam que a negociação
com o Congresso Nacional reduzirá o impacto fiscal para o patamar de R$
600 bilhões a R$ 800 bilhões.
‘Falta
de humanidade’
Durante a corrida eleitoral, o então candidato Jair
Bolsonaro (PSL-RJ) chegou a dizer que a idade mínima de 65 anos era “falta
de humanidade”. O político afirmou que o desequilíbrio das contas públicas
não tinha qualquer relação com a Previdência e que jamais atuaria para
levar “miséria” aos aposentados por exigência do mercado financeiro. Agora
empossado, Bolsonaro disse que “errou” ao opinar sobre Previdência
durante campanha.
Guedes
lutou por tempo maior de contribuição
O secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério
Marinho, diz que a idade mínima foi tema de embates entre Bolsonaro e Paulo
Guedes. Marinho revela que Guedes queria 65 anos para homens e mulheres. Já o
presidente insistiu em 65 para homens e 60 para mulheres. Entraram em consenso
em 65 e 62, diferenciando homens de mulheres e garantindo transição de 12 anos.
O texto da reforma da Previdência chegou ao Congresso
Nacional como uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição). Não há data certa
para votação e nem prazo limite para as regras entrarem em vigor. As comissões
de análise devem ser instauradas depois do Carnaval.
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