Jornalistas da EBC acusam censura em cobertura sobre o golpe de 1964
Governo Bolsonaro utiliza prática da ditadura e assombra redação da estatal, com vetos a termos e
matérias sobre o golpe ocorrido há 55 anos.
Por RBA
29/03/2019
Às vésperas do 1º de abril - quando o golpe de 1964, que instalou por
mais de duas décadas uma ditadura civil-militar no Brasil, completa
55 anos -, jornalistas da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) denunciam
que vêm sofrendo censura na cobertura do episódio. Termos como
"golpe" e "ditadura" foram barrados nos veículos de
imprensa da estatal – TV Brasil, TV Brasil Internacional, Agência
Brasil, portal EBC e Radioagência Nacional.
Ilustração: FNDC |
Segundo os trabalhadores da EBC, a proibição começou já
no início da semana, quando o presidente Jair Bolsonaro, sugeriu que os quartéis comemorassem a data. Os jornalistas dizem não
saber se a censura partiu do governo ou dos gestores da EBC, para agradar ou
evitar desconfortos com os primeiros. Para protestar contra o ocorrido,
jornalistas e demais funcionários planejam vestir preto na próxima
segunda-feira (1º)
Nas manchetes e reportagens, o termo "ditadura"
está sendo sistematicamente substituído por “regime militar”, a não ser quando
as matérias trazem declarações do presidente para negar o fato – “para
Bolsonaro, não houve ditadura no Brasil”. A palavra “golpe” é ainda mais
escondida. No lugar de “aniversário do golpe”, se usa “comemoração de 31 de
março de 1964”.
"Como trabalhadores da comunicação, temos
compromisso com o Estado democrático de direito, com a narrativa honesta dos
fatos e com a pluralidade de vozes da sociedade. É danoso ao Brasil que as
reportagens da EBC, distribuídas gratuitamente para o país e o mundo, tentem
esconder ou minimizar os crimes contra a humanidade praticados no período da
ditadura militar", dizem os trabalhadores da EBC, em nota assinada também
pelos sindicatos dos Jornalistas e Radialistas do Distrito Federal, Rio de
Janeiro e São Paulo.
Matérias como as recomendações do Ministério Público
Federal (MPF) para que os comandantes militares desistam de celebrações, e sobre a ação da Defensoria
Pública da União (DPU), que pretende impedir judicialmente as comemorações,
também estão sendo vetadas nos veículos da EBC.
"Nos 21 anos que se seguiram ao golpe de 1964,
milhares de pessoas foram exiladas, torturadas, estupradas, demitidas,
perseguidas, presas e censuradas pelo Estado, entre outros prejuízos à
dignidade humana e coletiva. Jornalistas, artistas, professores, advogados,
políticos, operários, líderes populares, indígenas, crianças e até mesmo
militares das Forças Armadas estão entre as vítimas, que sofreram por não
concordarem com a ditadura. É nosso dever lembrar e contar o que aconteceu
neste país. Para que nunca mais se repita. Inclusive a censura",
completa a nota.
Nenhum comentário