As mentiras de Bolsonaro em seu discurso na ONU
Agência
de checagem apontou informações falsas em trechos da fala do presidente na
Assembleia Geral das Nações Unidas.
Por RBA
24/09/2019
A
agência de checagem Aos Fatos analisou trechos do discurso do presidente
Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas
(ONU), nesta terça-feira (24). Em uma fala carregada de viés ideológico, foi
possível verificar diversas informações falsas no texto lido pelo mandatário
brasileiro.
Foto: Alan Santos/PR |
Logo
no início, após dizer que o país esteve “à beira do socialismo”, Bolsonaro faz
referência ao Mais Médicos, programa implantado no primeiro mandato da
ex-presidenta Dilma Rousseff. “Em 2013, um acordo entre o governo petista e a
ditadura cubana trouxe ao Brasil 10 mil médicos sem nenhuma comprovação
profissional”, afirmou.
“Dados
do Tribunal de Contas da União de 2017 mostram que, dos 18.240 médicos
participantes do programa, 5.274 eram formados no Brasil (29%), 1.537 tinham
diplomas do exterior (8,4%) e 11.429 eram cubanos e faziam parte do acordo de
cooperação com a Opas (62,6%). Conforme determina a Lei 12.871/2013, que
instituiu o programa Mais Médicos, os profissionais cubanos precisavam
apresentar documentação que comprovasse formação em curso superior de Medicina
e autorização para exercício da profissão no exterior. Logo, a declaração de
Bolsonaro é FALSA”, conclui a agência de checagem, quanto à suposta falta de
habilitação dos profissionais.
Ainda
sobre o Mais Médicos, atacado por Bolsonaro como forma de atingir sua
antecessora e também Cuba, o presidente disse que os médicos do país caribenho
“foram impedidos de trazer cônjuges e filhos”, informação que também é falsa.
“Não
é verdade que os profissionais cubanos que vieram ao Brasil pelo programa Mais
Médicos não podiam trazer parentes. O artigo 18 do texto da lei 12.871/2013
prevê que o Ministério das Relações Exteriores pode conceder visto temporário
‘aos dependentes legais do médico intercambista estrangeiro, incluindo
companheiro ou companheira, pelo prazo de validade do visto do titular'”,
pontua a agência.
O Aos Fatos ainda destaca que o presidente, quando deputado, se posicionou
de forma contrária à vinda de familiares dos profissionais médicos de Cuba. “Em
discurso no plenário da Câmara em 2013, Bolsonaro afirmou ‘está na Medida
Provisória: cada médico cubano pode trazer todos os seus dependentes. A gente
sabe como funciona a ditadura castrista. Então, cada médico vai trazer 10, 20,
30 agentes para cá'”, imaginou o então parlamentar.
Mentiras
ambientais
Ao
falar sobre preservação do meio ambiente, motivo pelo qual o Brasil é motivo de
críticas em todo o mundo, tendo sido denunciado na própria ONU por um grupo de
16 jovens ativistas, entre eles Greta Thunberg, Bolsonaro disse que “em primeiro
lugar, meu governo tem o compromisso solene com a preservação do meio ambiente
e do desenvolvimento sustentável em benefício do Brasil”.
“Apesar
de afirmar que seu governo preza pela defesa do meio ambiente, Bolsonaro e seus
ministros têm tomado atitudes que indicam intenções contrárias. Até o fim de
junho haviam sido liberados 239 novos agrotóxicos, alguns comprovadamente
causadores de problemas de saúde e danos graves ao meio ambiente. O escolhido
para chefiar a pasta do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi condenado no fim de
2018 por fraudar o processo do Plano de Manejo de Proteção Ambiental da Várzea
do Rio Tietê quando ainda era secretário estadual do Meio Ambiente de São
Paulo”, lembra a agência.
“Em
maio, Salles afirmou, sem apresentar dados concretos, que o Fundo Amazônia,
criado em 2008 para arrecadar recursos de países desenvolvidos para a
preservação da floresta, apresenta uma série de irregularidades e
inconsistências, o que levou a questões diplomáticas que podem extinguir o
fundo. O ministro também cortou cerca de 95% da verba destinada a políticas
climáticas pelo governo e exonerou o coordenador Executivo do Fórum Brasileiro
de Mudanças Climáticas.”
“Suas
críticas ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)
também levaram seu presidente e três de seus diretores a se demitirem – eles
foram substituídos por militares sem os mesmos conhecimentos técnicos. Por fim,
as inúmeras críticas feitas pelo ministro e o próprio presidente à fiscalização
do Ibama fizeram com que o número de multas aplicadas entre janeiro e maio
tenha sido o mais baixo em 11 anos.”
Matéria
publicada por Aos Fatos "mostra que o ministro, mesmo com
números recordes de desmatamento na Amazônia, tem priorizado o encontro com
deputados e senadores ligados ao agronegócio. Por todos esses motivos, a
declaração de Bolsonaro é considerada FALSA.”
Sobre
o meio ambiente, o presidente disse que “71% do nosso território é preservado”.
Outro equívoco. “A informação é FALSA. De acordo com números fornecidos pelo
Ministério do Meio Ambiente, o Brasil tem 26,5% de sua área total ocupada por
Unidades de Conservação. O dado considera tanto regiões de proteção integral,
que não podem ser manipuladas por seres humanos, quanto áreas de uso
sustentável, que podem ser ocupadas e ter seus recursos extraídos desde que
sejam respeitadas certas regras.”
Confira também a checagem feita pela Agência Lupa.
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