Chile em protesto: mais de 1 milhão foram às ruas nesta sexta-feira
Duramente
reprimida, onda de manifestações contra políticas neoliberais resultou em 19
mortos, 295 feridos por armas de fogo e 2,8 mil detidos.
As manifestações começaram há oito dias, com o anúncio de um aumento de cerca de 20 centavos nas passagens de metrô. A revolta foi tão grande que o presidente Sebastián Piñera voltou atrás, mas os protestos continuaram, e com uma pauta mais ampla. Os objetos de reclamação passaram a ser o alto preço dos serviços básicos, de modo geral, privatizados, e a violência policial – um dos legados da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Dia agitado
Por Brasil de Fato
25/10/2019
Santiago,
capital do Chile, assistiu na tarde desta sexta-feira (25) à maior manifestação
de rua desde o fim da ditadura militar, em 1990: mais de um milhão de pessoas
se reuniram na Praça Itália, região central, em um ato que é
considerado o ápice da onda de protestos contra o neoliberalismo, iniciada na
última semana.
Há
oito dias, onda de protestos agita o Chile. Foto: Pablo Mardones (20/10/2019)
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As manifestações começaram há oito dias, com o anúncio de um aumento de cerca de 20 centavos nas passagens de metrô. A revolta foi tão grande que o presidente Sebastián Piñera voltou atrás, mas os protestos continuaram, e com uma pauta mais ampla. Os objetos de reclamação passaram a ser o alto preço dos serviços básicos, de modo geral, privatizados, e a violência policial – um dos legados da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Analistas
políticos apontam que essa série de protestos expôs a ferida
da desigualdade social no Chile, muitas vezes oculta sob a propaganda
de eficiência do Estado e de estabilidade econômica. Os
manifestantes reclamam do alto custo de vida, dos baixos salários e
aposentadorias, além de questionar a dificuldade de acesso aos sistemas de
saúde e educação.
Duramente
reprimida pelos carabineros -- polícia militar chilena – e pelo Exército,
a onda de protestos resultou em 19 mortos, 2,8 mil detidos e 295 feridos
por armas de fogo.
Dia agitado
As
estradas que dão acesso a Santiago amanheceram tomadas por
caminhoneiros, taxistas, motoristas de carros particulares e motociclistas em
protesto contra o aumento dos pedágios. Anualmente, as concessionárias
reajustam o preço do pedágio devido à fórmula prevista nos contratos, que prevê
um fixo de 3,5% mais a inflação acumulada. Isso possibilitou que as operadoras
das rodovias da região metropolitana de Santiago aumentassem o valor em
6,4%.
O
TAG-Televia, sistema de pedágio usado no Chile, é semelhante ao Sem Parar, de
São Paulo, em que o motorista pode passar pela praça e tem descontado
o valor correspondente de maneira automática. A diferença, no Chile, é que o
preço varia de acordo com o movimento da estrada e o momento do dia.
A
130 km dali, em Valparaíso, cidade portuária, os carabineros reprimiram
pela manhã, com bombas de gás lacrimogêneo e jatos de água, uma manifestação em
torno do Congresso Nacional. Um grupo de cerca de 25 manifestantes conseguiu
atravessar as grades do edifício, mas foi detido ainda nos jardins do
Parlamento e não entrou no prédio. Os parlamentares foram evacuados por
precaução.
Diante
da magnitude do protesto da Praça Itália e considerando os altos índices de
violência policial, Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile e atualmente
alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, disse que enviará na
próxima segunda-feira (28) uma missão de verificação para acompanhar os
conflitos no país e examinar denúncias de violações dos direitos humanos.
*Com
informações de La Tercera, Agência Brasil e Opera Mundi.
Edição:
Daniel Giovanaz – Brasil de Fato
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