Intervozes denuncia crescimento da violência contra jornalistas
Em
publicação lançada nesta sexta-feira (25), o coletivo chama atenção para a banalização
do ódio e outros temas.
Por Cristiane Sampaio - Brasil de Fato
25/10/2019
Ataques
a comunicadores estiveram entre os principais destaques de 2018 no que se
refere ao panorama do direito à comunicação no Brasil. Segundo levantamento da Press
Emblem Campaign (PEC), entidade com sede na Suíça, o país ficou em oitavo
lugar no ranking mundial dos assassinatos de profissionais da área, com quatro
mortes registradas. Entre 2014 e 2018, foram 22 casos. O Brasil divide o topo
da lista com países como Síria, México, Afeganistão e Iraque.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil |
A
informação foi um dos destaques apresentados pelo Intervozes –
Coletivo Brasil de Comunicação Social no relatório “Direito à Comunicação no Brasil – 2018”, lançado nesta sexta-feira
(25), em Brasília (DF). Entre outras coisas, o documento destaca ainda uma
pesquisa da ONG Artigo 19 segundo a qual 70% dos crimes contra
comunicadores foram praticados ou encomendados por agentes públicos,
especialmente políticos e policiais.
“A
partir das eleições de 2018, a gente nota um acirramento da polarização, uma
maior violência física e verbal contra os comunicadores, principalmente, contra
comunicadores de rádios comunitárias, blogueiros, jornalistas de pequenos
veículos independentes”, aponta o jornalista Luciano Gallas, membro do
Intervozes.
Ele
acrescenta que o problema suscita preocupações no que se refere à garantia das
liberdades de imprensa e de expressão, acarretando danos de ordem sistêmica
para a democracia brasileira.
“Não
é um ataque só contra a pessoa do comunicador. É um ataque também à própria
democracia, à liberdade de manifestação e à própria possibilidade de o país
aprender com seus equívocos. A partir do momento em que se trata com
violência física, emocional, verbal os comunicadores, se está colocando
obstáculos graves à circulação de ideias na sociedade, se está inviabilizando o
debate, o surgimento do diferente, do contraditório na produção jornalística na
comunicação como um todo. E isso significa enganar a democracia”, analisa.
Conforme
já apontado em levantamentos feitos por outras organizações, as manifestações
de ódio na internet e nas ruas do país figuram entre os pontos de realce
trazidos pelo estudo do Intervozes. O material ressalta a violência durante o
período eleitoral, quando pelo menos 70 ataques foram denunciados, segundo
dados levantados pela Agência Pública em parceria com a Open
Knowledge Brasil.
Desse
total, 50 foram praticados por apoiadores declarados do então candidato a
presidente Jair Bolsonaro (PSL), seis foram dirigidos a eleitores do pesselista
e outras 15 agressões foram consideradas indefinidas. De acordo com o
Intervozes, quando se olha para a questão da banalização do ódio, é possível
afirmar que os atos de hostilidade têm um destino já conhecido: negros,
indígenas, quilombolas, entre outros, mas especificamente mulheres
negras.
A
compilação feita pela entidade cita um levantamento do pesquisador brasileiro
Luiz Valério Trindade, que estudou o tema. Ao analisar 109 páginas e 16 mil
perfis no Facebook, além de 224 artigos jornalísticos publicados entre os anos
de 2012 e 2016, ele constatou que cerca de 80% dos discursos de ódio
verificados eram destinados a mulheres negras.
“O
caso da vereadora Marielle Franco também mostra muito isso porque, além da
questão da atuação dela contra as milícias no Rio de Janeiro, também perpassa a
perseguição que ela vinha sofrendo e o crime que ela sofreu o fato de ela ser
uma mulher militante, mulher, negra, oriunda das comunidades e que tinha essa
postura corajosa de se colocar contra a ordem constituída”, sublinha Gallas.
Telecomunicações
O
relatório chama atenção ainda para uma série de outros problemas, como é o caso
da falta de universalidade dos serviços de telecomunicação e acesso à internet
no país, previsto no Marco Civil da Internet.
Dados
consolidados pela consultoria Teleco a partir de informações de outras
instituições, como a Agência Nacional de Telecomunicações e o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, em janeiro deste
ano, havia apenas 31,2 milhões de assinantes de banda larga no país. Cerca de
27% dos brasileiros consideram que o serviço ainda é pouco acessível por ter
preço elevado.
Como
consequência, os números trazem um recorte de classe social: cerca de 30% dos
domicílios de classes D e E têm internet no Brasil, enquanto, nas classes A e
B, os percentuais são de 99% e 93%, respectivamente.
“As
políticas públicas elaboradas pelo Brasil ainda não apresentaram remédios
eficientes na tentativa de ampliar o acesso a isso, que tem muito a ver com o
direito humano à comunicação”, assinala o jornalista Marcos Urupá, do
Intervozes.
Relatório
O
documento aborda ainda outros temas, como a proteção de dados, os benefícios
eleitorais capitalizados por donos de rádio e TV, a desinformação e a
veiculação em massa das chamadas “fake news”, entre outros. O material completo pode ser acessado neste link.
Edição:
Rodrigo Chagas – Brasil de Fato
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