"O direito à vida é um direito básico, e isso deve incluir a terra", diz Angela Davis
Ativista
estadunidense lançou no Brasil seu livro “A liberdade é uma luta constante” e
participou de seminário sobre democracia; ela concedeu entrevista exclusiva ao
Brasil de Fato.
Por José Eduardo Bernardes
- Brasil de Fato
22/10/2019
A
professora e filósofa estadunidense Angela Davis tem uma vida pautada na luta
pelos direitos humanos, no ativismo feminista negro e contra o sistema
prisional. Integrante do Partido dos Panteras Negras, ela chegou a ser presa por seu ativismo durante a
década de 1970, mas foi inocentada em um dos processos jurídicos mais
importantes dos Estados Unidos.
Angela visitou a Escola Nacional Florestan Fernandes, ligada ao MST. Foto: José Eduardo Bernardes/Brasil de Fato |
Ela
está no Brasil a convite da Fundação Rosa Luxemburgo e da editora
Boitempo, e para o lançamento de seu livro “A liberdade é uma luta
constante”. No último sábado (19), a ativista participou
do seminário “Democracia em Colapso”, organizado pela editora, no qual
pediu a valorização de feministas negras brasileiras e reconheceu a prisão política
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No
domingo (20), ela visitou a Escola Nacional Florestan Fernandes, espaço de
formação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), localizada em
Guararema (SP), onde falou com exclusividade ao Brasil de Fato. Na ENFF, Davis participou
de um encontro com organizações
do movimento negro brasileiro, camponeses sem-terra e militantes de
movimentos populares, como o Levante Popular da Juventude.
Luta
pela terra
Em
reconhecimento à luta promovida pelo MST, Davis destacou a relevância da
necessidade do acesso à terra como uma questão fundamental para a manutenção da
vida. "A luta pela terra é extremamente importante para as mulheres e os
homens que foram privados de seus direitos na sociedade”, disse.
Para
a ativista, o direito à terra está intimamente ligado à liberdade
das mulheres negras e dos povos originários que foram colonizados.
"O direito à vida é um direito básico. E isso deve incluir a terra. A luta
pela terra nos ajuda a reconhecer a importância de desenvolver alianças com
povos indígenas, principalmente considerando as formas como os povos indígenas
têm sido os guardiões da terra”, ressaltou.
Feminismo
interseccional
Davis
é professora emérita do departamento de estudos feministas da Universidade da
Califórnia. Com larga carreira acadêmica, ela publicou diversos outros livros,
entre eles, os que tornaram seu nome mundialmente reconhecido no movimento feminista: “Mulheres,
raça e classe e Mulheres, cultura e política”.
Seja
por sua trajetória de vida ou por suas obras, o legado de seu ativismo para o
movimento negro no Brasil é latente. No entanto, em sua análise, a ativista
afirma que sua passagem pelo Brasil traz mais aprendizados a ela, do que ela
poderia contribuir com os movimentos populares brasileiros.
"Eu
tenho muito mais a aprender com as pessoas que estão construindo a luta no
Brasil do que elas têm a aprender conosco”, disse. "Há muito tempo, eu
fico impressionada com os movimentos sociais aqui do Brasil. Há décadas, aliás.
Eu me sinto honrada toda vez que visito o Brasil. As tradições do feminismo
negro daqui têm muita potência. Eu acho que o mundo precisa conhecer o trabalho de Lélia Gonzalez”, completou Angela Davis.
Edição: Pamela Oliveira - Brasil de Fato
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