Reforma da Previdência é aprovada e aposentadoria fica mais difícil para trabalhador
Dos
81 senadores, 60 votaram a favor da PEC; em 10 anos, governo quer deixar de
pagar R$ 800 bilhões em benefícios.
Por Juca Guimarães - Brasil de Fato
22/10/2019
O
Senado aprovou, em segundo turno, a reforma da Previdência Social
proposta pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL), em janeiro deste ano. A PEC
(Proposta de Emenda Constitucional) número seis recebeu 60 votos a favor e
19 contra, a reforma tira direitos fundamentais de mais de 100 milhões de brasileiros, que estão no mercado de
trabalho formal, informal ou já são aposentados e pensionistas. Os destaques
individuais apresentados pelos senadores foram rejeitados.
Resultado foi anunciado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre: 60 votos a favor e 19 contra. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado |
As
lideranças que orientaram as bancadas a votar a favor da reforma foram: MDB,
Podemos, Republicanos, PSL, PSC, PSDB, Democratas e Progressistas. PT,
Rede, PSB e PDT se posicionaram contra. O PSD, Pros e o Cidadania liberam a
bancada para votar. "Todos
perdem. Não tem ninguém que ainda vai se aposentar que não vai ter algum
direito retirado por conta dessa PEC", explicou o senador Paulo Paim
(PT-RS).
O
relator da reforma foi o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que defendeu as
mudanças. "O texto chega a quase um consenso nessa Casa. Temos que
encerrar isso hoje. Não podemos fazer nada que faça esse projeto para a Câmara.
O texto não é perfeito, mas dentro da diversidade da Casa é o melhor texto
possível", argumentou.
A
reforma estabelece uma idade mínima de 65 anos para os homens e 62 anos para as
mulheres com tempo mínimo de contribuição de 20 anos e 15 anos,
respectivamente. O valor, porém, será equivalente a 60% da média do valor
de referência das contribuições, ou seja, o equivalente à renda do trabalhador
na ativa.
Para
ter direito ao valor integral, a partir de agora, trabalhadores devem contribuir
por 40 anos. Na prática, o trabalhador e a trabalhadora terão que trabalhar
muito mais tempo, além do limite da idade mínima, para ter direito ao valor
integral.
Pela
regra em vigor anteriormente, o valor integral do benefício era garantido pela
fórmula 86/96. A soma da idade e do tempo de contribuição para homem deveria
ser igual a 96, sendo obrigatório um mínimo de 35 anos de
contribuição. Para as mulheres, a aposentadoria integral poderia ser concedida
se a soma da idade e do tempo de contribuição (30 anos no
mínimo) atingisse 86 pontos.
A
reforma também acabou com a regra da aposentadoria por idade, que exigia 15
anos de contribuição e idade mínima de 60 anos para a mulher e 65 anos para os
homens. De cada dez aposentadorias concedidas, sete eram por idade.
Exemplos
Atualmente,
um trabalhador que hoje tem 65 anos de idade e 29 de contribuição, pela regra
antiga da aposentadoria por idade, poderia se aposentar por idade daqui a um
ano. Para a aposentadoria por tempo de contribuição, daqui a seis anos. No
entanto, com a regra nova, ele só vai se aposentar com direito ao valor
integral do benefício daqui a 11 anos.
Uma
mulher com 56 anos de idade e 26 anos de contribuição precisaria esperar só
mais um ano para conseguir se aposentar (regra 86/96). Com a reforma, essa
mesma trabalhadora terá que esperar seis anos para se aposentar com o valor
integral.
O
senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) destacou que a reforma foi cruel porque só
atingiu a classe trabalhadora e os mais pobres.
"Não
teve nenhuma discussão para falar da tributação sobre o capital acumulado.
Sobre as grandes fortunas, sobre a concentração de renda. A investida é contra
o trabalhador que está lá dentro da mina, no pesado e ganhando pouco",
assinalou o senador da Rede.
Rigidez
Com
a alteração das regras, que distanciam os trabalhadores dos benefícios, o
Estado deve retirar, no mínimo, R$ 800 bilhões do montante pago
em aposentadorias, auxílios e pensões pelo INSS (Instituto Nacional
do Seguro Social), em dez anos, segundo a análise do próprio governo.
No
texto apresentado pelo Executivo no começo do ano, com regras ainda mais
rígidas do que as que foram aprovadas nesta terça, a reforma tinha uma previsão
de cortar R$ 1,2 trilhão dos benefícios em uma década.
Para
a oposição, a reforma descaracteriza completamente os princípios da Seguridade
Social, estabelecidos na Constituição Federal de 1988, como um
sistema de distribuição de renda e proteção social em todo território nacional.
Na votação em primeiro turno, no dia 1° de outubro, a reforma teve 56 votos a favor e
19 contra. Nos dez meses de tramitação no Congresso, a proposta de reforma do
governo foi perdendo
volume, por conta dos protestos da classe trabalhadora e dos movimentos
sociais.
Por
exemplo, foi rejeitada a regra de capitalização
individual; a regra que determinava um valor menor da pensão caso a viúva
não tiver filhos; fim da regra que permitia valores menores que um
salário-mínimo para as pensões e benefícios para deficientes carentes.
Pararela
Os
debates no Congresso sobre as regras da Previdência não terminam com a
aprovação da PEC 06/19. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) está analisando
a PEC 133/19, a chamada PEC paralela. Nela estão os pontos polêmicos que ficaram de fora, por enquanto,
da reforma. Por exemplo, a inclusão dos estados e municípios na reforma; a
tributação das entidades filantrópicas e o fim da isenção para as exportações
do agronegócio.
Transição
Para
os trabalhadores que estão perto de se aposentar terão que cumprir um pedágio,
um período a mais de contribuição, de acordo com o tempo de faltaria pela regra
antiga, mais idade mínima. As regras mudam para os servidores públicos e para
os trabalhadores da inciativa privada. Confira os modelos de transição aqui.
O
senador José Serra (PSDB-SP) argumentou que as regras aprovadas não são
suficientes e que espera mais arrochos para reduzir os custos com os pagamentos
das aposentadorias e pensões.
Edição:
Rodrigo Chagas – Brasil de Fato
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