Lula: “Não podemos permitir que os milicianos acabem com o país que construímos”
Em seu discurso, o ex-presidente criticou o
governo de Jair Bolsonaro e reafirmou sua disposição em lutar por justiça.
Justiça para Marielle
Após discurso, Lula foi carregado por entre a multidão. Foto: Ricardo Stuckert/Fotos Públicas |
Por Brasil de Fato
09/11/2019
Em um discurso duro
contra Jair Bolsonaro (PSL), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu
as medidas de distribuição de renda de sua gestão e atacou as medidas liberais
do atual governo. Ele convocou a multidão que se aglomerou em frente ao
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), a se
mobilizar contra o desmonte do Brasil.
“Não tem ninguém que conserte esse país, se vocês não
quiserem consertar. Não adianta ficar com medo das ameaças que ele faz na tevê,
que vai ter miliciano, que vai ter AI-5. A gente que ter a seguinte decisão:
esse país é de 210 milhões de habitantes e não podemos permitir que os
milicianos acabem com esse país que construímos.” Lula questionou a capacidade de Bolsonaro e Paulo Guedes
em dar respostas à economia do país.
“O que vejo é que o povo ficou mais pobre, com menos
saúde, menos casa, menos emprego. Mais de 40 milhões, 50% da população está
ganhando R$ 423 por mês. Seria importante que ele fizesse o que vocês fazem:
pegar R$ 423 e sustentar a família, pagar transporte para trabalhar. Queria que
ele fosse pro médico, comprar remédio. Eu acho que não tem outro jeito”,
argumentou.
Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas |
O ex-presidente também criticou a postura de Bolsonaro em
seus pronunciamentos públicos e lamentou o desrespeito do atual presidente com
mulheres, negros, LGBTs e com as pessoas mais frágeis da sociedade.
Segundo Lula, essa postura de Bolsonaro também se traduz
em suas ações de governo. “Quero saber por que esse cidadão que se aposentou
muito jovem quis tirar aposentadoria do povo brasileiro. Quero saber por que
esse cidadão que nunca ganhou salário mínimo quer congelar o salário, que nunca
teve a carteira profissional azul quer criar a carteira verde amarela que vai
ter empregos intermitentes. Não vai ter registro em carteira. Eles estão
apresentando um projeto econômico que vai empobrecer cada vez mais a sociedade
brasileira”.
Lula iniciou seu discurso atacando a Rede Globo de
Televisão e lembrando a rotina que tinha durante o período em que ficou preso.
“Foram 580 dias numa solitária”, declarou. O ex-presidente defendeu a decisão
de se entregar à Polícia Federal no dia 7 de abril de 2018.
“Quero repetir algo que falei: o homem e a mulher, quando
tem clareza do que quer na vida, do que eles representam e que seus algozes
estão mentindo – e eu poderia ter ido a uma embaixada, outro país –, mas eu
tomei a decisão de ir lá. Preciso provar que o juiz Sérgio Moro não era um
juiz, era um canalha. Dallagnol não representa o Ministério Público, que é uma
instituição séria. Ele montou uma quadrilha na força-tarefa da Lava Jato. Quem
fez inquérito contra mim, mentiu em cada palavra. Se eu saísse seria um
fugitivo.”
Justiça para Marielle
O ex-presidente cobrou justiça no caso de Marielle. Lula
disse que Bolsonaro foi eleito para governar para o povo brasileiro e não para
os milicianos do Rio de Janeiro. “Não é a gravação do filho dele que vale. É
preciso que haja uma perícia séria para que a gente saiba definitivamente quem
matou Marielle.”
‘Tesão de 20’
‘Tesão de 20’
Lula reafirmou a posição de não agir movido pelo ódio.
“Aos 74 anos, eu não tenho direito mais de ter ódio em meu coração. Eu não
sabia que ia me apaixonar aos 74 anos de idade. Eu estou com 74 anos, energia
de 30 anos e tesão de 20 anos. Eu estou de bem com a vida e vou lutar por esse
país”, apontou.
Ele relembrou as políticas afirmativas do seu governo. “A
única coisa que me motiva nesse país é que nós já provamos que é possível
governar para o povo mais necessitado. É possível colocar pobre na
universidade, o povo nas escolas técnicas. Provamos que em 12 anos geramos 22
milhões de empregos com carteira assinada”, apontou.
Inocência
Lula agradeceu os advogados Valeska e Cristiano Zanin e
lembrou que sua luta é para que os processos contra ele sejam anulados. “O que
nós queremos agora é que seja julgado o habeas corpus que demos entrada nos STF
[Supremo Tribunal Federal] anulando todos os processos feitos contra mim.
Existe argumento suficiente para provar. [Sergio] Moro é mentiroso, [Deltan] Dallagnol
é mentiroso. Não é por causa do que foi publicado pelo The Intercept, é pelo
que escreveram na minha defesa. Só tem uma explicação para o que fizeram no
processo, foi para me tirar da disputa eleitoral.”
América Latina
Lula ressaltou a importância dos resultados recentes nas
eleições em países vizinhos. Ele comemorou a vitória da chapa de Alberto
Fernandez e Cristina Kirchner, na Argentina, e manifestou sua torcida por
Daniel Martínez, da Frente Ampla, no Uruguai, “para evitar a volta do neoliberalismo”.
Sobre a Bolívia, o ex-presidente denunciou a pressão
golpista da oposição contra o presidente reeleito Evo Morales. “Estão fazendo o
que o Aécio fez quando Dilma ganhou dele.”
O petista pediu solidariedade à luta do povo chileno
contra o neoliberalismo e ao povo venezuelano na luta contra o bloqueio
econômico e às ameaças estadunidenses. “Podemos fazer críticas a qualquer
governo do mundo, mas quem decide sobre os problemas do país é o povo do país.
O [Donald] Trump que resolva o problema dos americanos. Ele não foi eleito para
ser o xerife do mundo. Ele que governe os Estados Unidos e cuide da pobreza de
lá.”
Por fim, Lula contestou a iniciativa de Trump em
construir um muro separando os Estados Unidos do México. “Eles que celebraram a
queda do muro de Berlim estão construindo um muro contra pobres. Não
podemos aceitar isso”, assinalou.
‘Estou de volta’
No final do discurso, o ex-presidente voltou a convocar
os brasileiros a reagir às medidas neoliberais de Jair Bolsonaro e Paulo
Guedes. “Um povo como vocês não depende de uma pessoa, dependem do coletivo.
Cassaram Lula e [Fernando] Haddad quase é eleito presidente da República. Tenho
certeza de que se a gente tiver juízo, se souber trabalhar direitinho, em 2022
a esquerda, que Bolsonaro tem tanto medo, vai derrubar a ultradireita. Esse
país não merece o governo que tem. Não merece um governo de um presidente que
manda os filhos todos os dias contar mentiras, através das fake news”.
Edição:
Camila Maciel e Rodrigo Chagas – Brasil de Fato
Nenhum comentário