Neoliberalismo enfraquece a consciência de classe, afirma economista britânico
Para Andreas Bieler, a queda na qualidade de
vida da classe trabalhadora abre caminho para o discurso da direita.
Por Cris
Rodrigues - Brasil de Fato
17/12/2019
A crise do capitalismo global é uma crise de
superacumulação. É o que defende Andreas Bieler, professor de Economia Política
na Universidade de Nottingham, no Reino Unido. Em entrevista ao Brasil
de Fato, ele explicou que há atualmente, nas mãos de poucos
capitalistas, um excesso de capital privado em busca de realizar
novos investimentos para gerar mais lucro. Isso é o que caracterizaria a
superacumulação – de acordo com a definição do geógrafo britânico
David Harvey.
Bieler é professor de Economia Política na Universidade de Nottingham, no Reino Unido. Foto: Vanessa Nicolav/Brasil de Fato |
O professor questionou a crença de que o neoliberalismo
seria uma solução para esse período. "É preciso perguntar para quem",
provocou. "Do ponto de vista capitalista, o neoliberalismo funciona bem,
porque enfraquece os trabalhadores e permite encontrar novas maneiras de
acumular capital. Mas, da perspectiva das pessoas, não funciona", afirmou.
Para questionar a política de privatizações, uma
característica dos regimes neoliberais, Bieler citou o exemplo da Grécia, onde
as consequências foram o empobrecimento da população e queda de
qualidade dos serviços.
A crise atual, segundo o economista, tem origens na
financeirização e na especulação que se intensificaram a partir da década de
1970 nos países do norte global. Nos últimos anos, o processo de
superacumulação levou os capitalistas à busca por mais oportunidades de
investimento. O cenário atual de precarização da classe trabalhadora é, para
ele, uma consequência desse ciclo.
"Uma das formas de acumular capital é fazendo o
trabalho ficar mais barato, o que é feito pela informalidade. Você transfere o
risco da empresa para o indivíduo", disse. Uma das consequências desse
processo, segundo ele, é um enfraquecimento da consciência de classe, porque os
trabalhadores ficam mais inseguros e têm mais dificuldade de se organizar
coletivamente.
Sem organização e com a qualidade de vida em queda,
trabalhadores tornam-se suscetíveis ao pensamento
conservador. "Quando as pessoas têm seu meio de vida ameaçado, elas
se tornam potencialmente abertas ao discurso da direita", concluiu.
Assista ao vídeo com a entrevista:
Edição: Rodrigo Chagas – Brasil de Fato
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