7 iniciativas para um Carnaval com respeito e livre de preconceitos
“Não é Não!” e #CarnavalSemGordofobia são
algumas das campanhas que devem marcar a maior festa popular do Brasil.
Por Gabriela
Rassy – Hypeness
16/02/2020
Marina Person e Leandra Leal são ativistas da campanha "Não é Não!" Foto: @leandraleal/Instagram |
Chegou a época mais festiva do ano! O Carnaval vem
com calor, trajes minimalistas e muita gente animada ocupando as ruas. Mas
neste ano, que será o segundo após a sanção da lei de importunação sexual, as campanhas de conscientização
estão com mais força do que nunca.
A lei classifica como assédio atitudes
libidinosas sem consentimento, isso é, puxar as pessoas pelo braço, das beijo
forçado, xingar, tocar em lugares íntimos sem autorização e por aí vai. A pena
por passar dos limites pode variar entre um e cinco anos de detenção.
Mesmo com uma lei em vigor, ainda existe a necessidade de
orientar quem ficou no século passado e continua importunando. Obviamente as mulheres
e pessoas LGBT são as mais atingidas por esse comportamento criminoso, então
governos e grupos da sociedade promovem, com mais força nesse período,
iniciativas que lutam por um Carnaval mais diverso, livre de preconceitos e
seguro para todes.
Aqui reunimos algumas propostas de coletivos atuantes no
Carnaval contra o machismo, a violência, a gordofobia e a homofobia.
Vamos nessa!
Não é não!
Criado em 2017, no Rio de Janeiro, pelas amigas Barbara
Menchise, Aisha Jacob, Julia Parucker e Nandi Barbosa, após uma delas sofrer um
episódio de assédio, o coletivo Não é Não! distribui uma tatuagem
temporária que marca na pele o que alguns insistem em não entender. Assim, o
movimento torna os corpos das mulheres um suporte para a luta por
uma sociedade mais justa e igualitária.
Segundo a própria descrição, Não é não! é mais que
uma frase, ou um grito de guerra. É a criação de um escudo que empodera a mulher.
Devolve a ela o direito ao próprio corpo e o poder de fazer com ele o que bem
entender. Parece óbvio. Mas infelizmente as mulheres ainda precisam
repetir constantemente.
As amigas conseguiram reunir 40 aliadas do projeto em um
grupo de WhatsApp e arrecadaram cerca de R$ 3 mil para produzirem 4 mil
tatuagens. Depois de começar no Rio, o segundo ano do movimento chegou a São
Paulo, Belo Horizonte, Recife, Olinda, Brasília e Salvador. Neste ano, as
tatuagens se espalham por 15 estados e pelo Distrito Federal.
#CarnavalSemAssédio
A campanha é promovida pela Catraca Livre desde
2016, em uma luta pelo fim da violência contra a mulher. Como a cultura
machista fica mais aflorada no Carnaval, época em que fica um clima de
permissividade, casos de assédio ficam mais frequentes.
Foto: Gabriel Nogueira |
Em parceria com a Rua Livre, produtora de blocos de
Carnaval que pensa ações de impacto social para a folia e para a cidade, e a
Prefeitura de São Paulo, a iniciativa marca presença nos principais circuitos
do Carnaval de rua paulistano com os Anjos do Carnaval, que vão orientar
vítimas de assédio nos blocos pelo segundo ano consecutivo. Neste ano, a campanha
chega também em blocos de Belo Horizonte, Salvador, Recife e Rio de
Janeiro.
Comissão Feminina do Carnaval de Rua
A Comissão Feminina do Carnaval de Rua de São Paulo
surgiu em agosto de 2019 a partir da necessidade de ampliar a
representatividade das mulheres nas discussões e decisões relacionadas à maior
festa de rua da cidade.
Mulheres como Andrea Lago, do Cacique Jaraguá, Silvia
Lopes, do Nois Trupica Mas Não Cai, Paula Klein, do Agora Vai, Baby Amorim, do
Ilú Obá de Min, e Lira Alli, do Vai Quem Qué, há anos reivindicavam esta maior
participação, além de movimentos como o Manifesto Carnavalista e o coletivo
Arrastão dos Blocos.
A Comissão acredita que o olhar feminino contribui para
ampliar a perspectiva de quem produz o Carnaval, apontando novos elementos na
luta pela construção de um ambiente mais inclusivo, seguro e acolhedor a todxs,
fortalecendo assim a democratização do processo de ocupação do espaço público.
Comissão Feminina do Carnaval de Rua. Foto: @beca.figueiredo |
#CarnavalSemGordofobia
A campanha criada pela modelo Luana Carvalho e pela
pesquisadora Gabi Morais trabalha pelo respeito questionando como seria se as
pessoas pudessem curtir o Carnaval sem medo. Na página do movimento, elas
perguntam como seria se não existisse gordofobia: do que você iria se
fantasiar? Como dançaria? Como se sentiria?
“Se eu, @lxccarvalho, pudesse
curtir um #CarnavalSemGordofobia não
teria medo de pegar transporte público, usaria uma fantasia sem me preocupar em
mostrar certas partes do meu corpo, iria pro bloco pra me divertir e não
pensando em qual frase gordofóbica vou ouvir, dançaria sem receios”, escreve
Luana.
A campanha vem crescendo rápido e recebendo muitos
comentários de seguidoras compartilhando respostas aos mesmos questionamentos,
pensando sempre se não existisse gordofobia.
As criadoras lançaram ainda um manual com 9 dicas de como
não ser uma pessoa gordofóbica no Carnaval. O principal ponto é sobre deixar as
pessoas gordas confortáveis, sendo seus amigos ou não, para curtirem em paz a
festa.
Fazer elogios, não usar fantasias que reforcem o
estereótipo, não fotografar nem ridicularizar estão entre as orientações.
Parece básico, mas não é. A última postagem aconselha ainda como pessoas magras
podem contribuir no combate à gordofobia.
Folia com
Respeito
Pelo terceiro ano consecutivo, o Coletivo dos Blocos de
Rua de Brasília, formado por fotógrafos, designers, produtores, cineastas e
artistas da cidade, promove a campanha. Ilustrada por mulheres e pessoas LGBT,
a ação chega toda trabalhada na representatividade para falar sobre respeito.
A iniciativa foi pensada para conscientizar dos foliões a
se unirem pelo combate à violência, empoderando as pessoas mais atingidas pelo
preconceito e pela intolerância. Além da atuação nas redes sociais e de um
posto móvel para prestar o atendimento às vítimas, o coletivo faz a
distribuição de selos adesivos para identificar quem se comprometeu em dar esse
apoio a vítimas durante os blocos.
Para receber o selo basta mandar um e-mail para
foliacomrespeito@gmail.com, solicitando a carta compromisso, responder
concordando com os itens da carta e receber o selo da campanha. As atrações que
que aderem ao movimento propagam o respeito em seus eventos, na busca de uma
folia mais segura e feliz para todos e todas.
Eu sou do bloco do respeito
Criada em 2019, em Brasília, a campanha volta ainda mais
forte em 2020 para conscientizar as pessoas sobre o respeito à vida, às
mulheres, à diversidade e ao patrimônio público. Neste ano, a ideia é também
abordar questões sobre lixo e sustentabilidade.
O objetivo da ação é trazer mais informação ao público,
auxiliando na identificação de comportamentos que podem prejudicar a
brincadeira. A campanha conta com a participação das secretarias da Mulher,
Mobilidade, Limpeza Urbana, Segurança Pública, Juventude e de Justiça e
Cidadania, que trarão mensagens educativas para garantir um Carnaval de
respeito e paz.
Só se eu quiser
A Coordenadoria Estadual de Políticas para as Mulheres do
Piauí lançou a campanha “Só se eu quiser… Não é não”. A ideia aqui é
sensibilizar os cidadãos piauienses sobre a importância do respeito ao corpo e
à vontade das mulheres durante o Carnaval.
O órgão entende que, durante este período, os crimes de
violências sexuais, físicas ou psicológicas são intensificados, mas muitas
mulheres não fazem uma denúncia oficial devido a agressão ter acontecido
durante a festa.
As ações acontecerão de forma educacional e preventiva na
cidade de Teresina e municípios do entorno com estantes de serviços da CEPM,
OAB/PI, COJUV, CEMDROGAS, DETRAN, SESAPI e Defensoria Pública.
Canais de denúncia
Vítimas de importunação e violência sexual no período do
Carnaval podem realizar denúncias por meio de diferentes canais, como o 190
(Polícia), 100 (Disque Direitos Humanos) e do Ligue 180 (Central de Atendimento
à Mulher). Também é possível prestar depoimento em qualquer posto policial e da
Delegacia Especializada em Crimes contra a Mulher.
Para que a denúncia se torne mais efetiva, é importante
anotar o local, dia e horário em que o fato ocorreu; o endereço e o telefone
das pessoas que testemunharam o fato e checar se na região que ocorreu o fato
existem câmeras que possam ter registrado a agressão. Se for possível,
faça registro audiovisual da agressão.
Em casos de crimes de ódio na internet, tire sempre print
ou foto da página do agressor para poder apresentar as imagens como prova.
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