Bolsonaro discursa e aglomera fanáticos em ato que pede ditadura
Tossindo muito, presidente conversou com
apoiadores que o esperavam em frente à sede do Exército com faixas pedindo fechamento
do Congresso e um novo AI-5.
Por Crítica21 - com informações da RBA
Reação
Por Crítica21 - com informações da RBA
19/04/2020
Em mais um ato de desrespeito à democracia e à saúde
coletiva, o presidente Jair Bolsonaro estimulou aglomerações em Brasília contrariando
recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto às medidas contra o novo
coronavírus. Na tarde deste domingo (19), ele discursou para um grupo de
apoiadores que se reuniu em frente ao Quartel Geral do Exército, com faixas
que pediam intervenção militar e um novo AI-5.
O ato escancarou a sanha ditatorial do presidente e o
fanatismo de seus apoiadores. Do alto de uma caminhonete, Bolsonaro falou a
seus seguidores, entre pausas e tosse persistente. Ele disse: “Eu estou aqui porque acredito em vocês. Vocês estão aqui
porque acreditam no Brasil. Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação
pelo brasil. O que tinha de velho ficou para trás. Temos um novo Brasil pela
frente”.
Ele ainda conclamou seus apoiadores à luta. “Mais que o
direito, vocês têm a obrigação de lutar pelo país de vocês”, disse, para uma
plateia que berrava palavras de ordem contra o STF, o Congresso e a imprensa, e
que pedia o fechamento de instituições democráticas e a edição de um novo AI-5
(instrumento da ditadura militar que endureceu a repressão no país). “Todos
no Brasil têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro.
Tenho certeza todos nós um dia juramos dar a vida pela pátria e vamos fazer
tudo o que for possível para mudar o destino do Brasil”, afirmou o presidente.
Os atos e declarações de Bolsonaro foram criticados por representantes
de vários setores da sociedade, em especial das áreas jurídica, política, das
artes e da imprensa. O ministro do STF, Luis Roberto Barroso, publicou uma
mensagem no twitter em que diz ser “assustador ver manifestações que peçam a
volta à ditadura depois de 30 anos de democracia no país”.
Ele afirmou também que "só pode desejar intervenção
militar quem perdeu a fé no futuro e sonha com um passado que nunca houve.
Ditaduras vêm com violência contra os adversários, censura e intolerância.
Pessoas de bem e que amam o Brasil não desejam isso".
O colega de Corte de Barroso, ministro Gilmar Mendes,
também se manifestou: “A crise do #coronavirus
só vai ser superada com responsabilidade política, união de todos e
solidariedade. Invocar o AI-5 e a volta da Ditadura é rasgar o compromisso com
a Constituição e com a ordem democrática.” No final da mensagem acrescentou a hashtag
#DitaduraNuncaMais.
Também ministro do STF, Marco Aurélio Mello disse à colunista da CNN Brasil, Basília Rodrigues: "Não sei onde o capita está com a
cabeça", ao se referir a Bolsonaro como capitão. "Não sei em que ele
está respaldado. Conheço os militares. Observam a disciplina, a hierarquia, e
não apoiam maluquices", afirmou. Já o presidente da Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, pediu que quem defenda a democracia deve se
unir, superando diferenças "em nome do bem maior chamado liberdade".
Carta dos governadores
Vários políticos manifestaram repúdio a Bolsonaro, e
no final da tarde o governador Flávio Dino, do Maranhão, postou em sua conta no twitter a carta assinada por 20 governadores em defesa
da democracia e em apoio aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, David
Alcolumbre. Para os signatários, as falas de Bolsonaro, “afrontam princípios
democráticos que fundamentam nossa nação”. A carta foi finalizada no sábado (18), mas sua mensagem faz referência a atos constantes de Bolsonaro, como o deste domingo (19).
Sobre o documento, Dino escreveu: “20 governadores divulgam agora Carta Aberta em defesa da
Democracia. Manifestamos também solidariedade aos presidentes da Câmara, @RodrigoMaia, e do Senado, @davialcolumbre, em face de
declarações de Bolsonaro". No texto, os governadores defendem as medidas de
isolamento social, em contraposição a Bolsonaro. “Nossa
ação nos estados, no Distrito Federal e nos municípios tem sido pautada pelos
indicativos da ciência, por orientação de profissionais da saúde e pela
experiência de países que já enfrentaram etapas mais duras da pandemia,
buscando nesse caso evitar escolhas malsucedidas e seguir as exitosas”.
Edição: Anderson Augusto de Zottis Soares - Crítica21
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