Cortes no investimento público aumentam sobrecarga em profissionais de saúde
Medidas recentes tomadas por Temer e
Bolsonaro intensificaram a precarização do trabalho na saúde no Brasil.
Por Repórter SUS – Brasil de Fato
Por Repórter SUS – Brasil de Fato
06/04/2020
Com a pandemia
causada pelo novo coronavírus, ficou evidente a crescente sobrecarga na
rede de saúde ao redor do mundo. No Brasil não é diferente, intensificou-se o
ritmo de trabalho dos profissionais da saúde diante das condições de trabalho,
e ainda com a presença de inúmeros riscos.
Foto: SMS/PMPA/Fotos Públicas |
Rodolfo José das Neves Pereira, professor e pesquisador
da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz
(EPSJV/Fiocruz), explicou ao Brasil de Fato que essa situação
precariza a saúde física e mental dos trabalhadores “O principal [sintoma]
deles é o biológico: tensão, medo e ansiedade estão presentes no dia a dia
desses profissionais, que reconhecem que estão no olho do furacão”, afirma
Pereira.
Mas as condições precárias não se intensificaram somente
em decorrência da pandemia. O professor afirma que é necessário voltar alguns
passos para três acontecimentos basilares que intensificaram a precarização do
trabalho na saúde no Brasil: a promulgação da Emenda Constitucional 95, que limita o teto de gastos com saúde e educação
por 20 anos; a implementação das reformas da Previdência e do Trabalho; e, por
fim, a “diminuição do Estado e o enfraquecimento das políticas públicas para o
setor da saúde”.
Segundo Pereira, essas medidas que foram tomadas entre o
governo de Michel Temer (MDB) e o início da gestão de Jair Bolsonaro (sem
partido), partem de uma “ordem do mercado, onde a saúde não é mais entendida
como um direito e sim como uma mercadoria”.
Em meio da pandemia, é verdade, lembra o professor, há de
fato o reconhecimento da população brasileira do trabalho realizado pelos
profissionais da saúde. “Quando grande parte da população manifesta essa
atitude do reconhecimento e do valor da necessidade destes profissionais é hora
de retomar a saúde como direito e consequentemente a retomada de um Sistema Único de Saúde (SUS) universal para todos e todas”, defende o
professor.
Leitos
De acordo com levantamento realizado pela Agência Estado
no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do portal Datasus, o
SUS oferece somente 44% dos leitos de UTIs existentes em todo o país. Essa
parcela é utilizada por 75% da população. O restante, cerca de 25% dos
indivíduos brasileiros, tem acesso aos leitos da rede privada de saúde, que
somam 56% do total de leitos. O estudo considerou os leitos de UTI adultos e
pediátricos, excluindo os neonatais.
Para ressaltar o comprometimento com a saúde das pessoas
que os profissionais brasileiros demonstram, o professor os compara com os
médicos cubanos, que durante 5 anos prestaram seus serviços à população
brasileira por meio do programa Mais Médicos.
“Assim como os médicos cubanos demonstram legítima
atitude humanitária quando se deslocam para outros países para enfrentamento da
pandemia de coronavírus, os trabalhadores da saúde no Brasil demonstram compromisso
com a saúde pública e a vida e merecem muito mais que respeito, merece muitas e
muitas vozes a afirmar saúde não como mercadoria e sim como direito”, conclui
Pereira.
Edição: Lucas Weber
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