Projeto de lei propõe gratuidade do gás de cozinha para famílias de baixa renda
Em discussão na Câmara Federal, projeto ainda
pretende fixar valor de R$ 40 para quem recebe até quatro salários mínimos.
Por Guilherme
Weimann - Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ)
07/04/2020
Na última sexta-feira (3), foi protocolado na Câmara dos
Deputados o Projeto de Lei (PL) 1482/2020, apelidado de “PL do gás de cozinha”.
A proposta de autoria do deputado federal Rogério Correia (PT-MG) visa garantir
a oferta de um botijão de 13 quilos de gás liquefeito de petróleo (GLP) por mês
para famílias beneficiárias do Bolsa Família e inscritas no Cadastro Único
(CadÚnico), enquanto durar o período de calamidade pública decorrente da pandemia
da Covid-19.
Foto: Agência Brasil |
Além disso, o PL pretende tabelar o preço do botijão a R$
40 para famílias com renda mensal de até quatro salários. Este valor foi
estabelecido a partir da campanha
“Gás a preço justo”, organizada por sindicatos filiados à Federação Única
dos Petroleiros (FUP).
A iniciativa, que ocorre desde o início do ano, consiste
na venda subsidiada do gás de cozinha em territórios mais vulneráveis pelo
valor de R$ 40, estipulado a partir de pesquisas do Departamento Intersindical
de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) que levaram em consideração
os custos de toda a cadeia de produção e a média histórica de 2001 a 2015,
quando a Petrobras exercia um controle sobre os preços.
Os partidos de oposição na Câmara Federal estão
organizando um projeto único em relação às medidas que devem ser tomadas para
diminuir os impactos da pandemia na vida da população brasileira. De acordo com
o deputado Rogério Correia, o projeto foi escolhido pela bancada como um dos
temas centrais nessa proposição.
“A Petrobras na gestão Bolsonaro é antinacional, prioriza
apenas os interesses dos seus acionistas. Isso fica evidente pela política de
definição de preços dos combustíveis que segue atrelada às variações do mercado
internacional”, opina Correia.
De acordo com Iury Paulino, integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), um dos responsáveis pela elaboração do
PL, a ideia é que o governo subsidie os custos dessa medida, mas que também se
aplique uma política de controle dos lucros.
“Esses itens que são essenciais à vida não podem ser
apenas mercadorias e instrumentos de especulação do capital para ganhar em cima
dos trabalhadores. Nós acreditamos que, a longo prazo, não deva ser apenas o
Estado responsável por pagar o custo de isenção desses serviços, mas de alguma
forma também taxar o grande capital e organizar essa cadeia produtiva”, afirma
Paulino.
Interesses privados
Para o dirigente do Sindicato Unificado dos Petroleiros
do Estado de São Paulo (Sindipetro Unificado-SP), Gustavo Marsaioli, este
projeto é fundamental para garantir a segurança econômica das populações mais
vulneráveis.
“O atual preço prejudica o orçamento do povo brasileiro,
principalmente os mais pobres, que é justamente o maior acionista da Petrobras.
O problema é que, hoje, a geração de lucro aos acionistas privados é o
princípio norteador da direção da empresa, antes do abastecimento nacional”,
denuncia Marsaioli.
Opinião semelhante revela o economista do Instituto de
Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo
Dutra (INEEP), Rodrigo Leão. “A Petrobras só olha para a parte minoritária da
empresa, que são seus acionistas privados. Não tem uma preocupação com o
acionista majoritário, que é o Estado e, em última instância, a população
brasileira”, avalia Leão.
Para o economista, mesmo sob a ótica de favorecimento dos
acionistas privados, a intenção da atual gestão de privatizar oito das quinze refinarias da Petrobrás não se justifica nesse
momento. “A privatização poderia ser boa no dia que fosse vendida, mas logo
depois a gente teria problemas. Imagina se hoje a Petrobrás tivesse um milhão a
menos de refino para processar petróleo?”, questiona.
Revenda freia queda nos preços
No acumulado do ano, o GLP caiu 21% nas refinarias da
Petrobras, acompanhando parte do movimento internacional de queda internacional
do valor do petróleo – o barril tipo Brent sofreu um reajuste
negativo de aproximadamente 50% desde janeiro.
Entretanto, essa diminuição não foi sentida pelos
consumidores. Desde o início do ano, de acordo com dados fornecidos pela
Agência Nacional de Petróleo (ANP), o preço do botijão de 13 quilos aumentou
0,5% e está sendo vendido entre R$ 50 e
R$ 115.
Para Marsaioli, a venda da Liquigás, até então subsidiária da Petrobrás, pode ser um dos
fatores que explica esse movimento. “O prejuízo das privatizações já começa a
aparecer, ou seja, a venda da BR Distribuidora e da Liquigás. Entendemos que
são necessárias ferramentas para controlar melhor o setor de revenda”,
esclarece.
A Liquigás, vendida em novembro do ano passado, era
responsável por 21,4% do mercado, e contava com 23 centros operativos, 19
depósitos e uma rede de aproximadamente 4.800 revendedores autorizados.
“Isso é um movimento histórico, não é novidade. A
história dos preços dos derivados é um pouco isso. Quando o preço sobe na
refinaria você tem uma tendência de repasse quase imediato e integral do preço,
quando cai, principalmente o setor que é mais capitalizado, que é a revenda,
tende a segurar a queda”, complementa Leão.
Edição: Mariana Pitasse – Brasil de Fato
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