Inédito: 1º de Maio virtual reúne Lula e FHC; Roger Waters participa do ato
Evento contou com a participação de diversas correntes
políticas, inclusive antagônicas, num grande manifesto a favor da
democracia e contra o governo Bolsonaro.
Por Anderson Augusto de Zottis Soares - Crítica21
Evento reuniu ex-presidentes, artistas nacionais e internacionais e ex-candidatos a presidente. Foto: reprodução/TVT - Montagem: Crítica21 |
Por Anderson Augusto de Zottis Soares - Crítica21
01/05/2020
Pela primeira vez, a tradicional celebração do 1º de Maio
foi realizada de forma virtual devido à pandemia de Covid-19. Inédita foi
também a participação de adversários políticos, como os ex-presidentes Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Transmitido durante quase seis
horas nesta sexta-feira, o ato reuniu diversos políticos, líderes
sindicais e artistas, com discursos contra o governo Bolsonaro, em defesa da democracia e em apoio ao isolamento social para minimizar os riscos de contágio do novo
coronavírus.
O ato foi organizado por nove centrais sindicais: CUT, Força
Sindical, CTB, UGT, CSB, CGTB, Intersindical, Nova Central e A Pública, com apoio
das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. Também contou com a participação de
representantes de pelo menos dez partidos - PT, PSDB, Rede, PDT, PV, PSB, PCdoB,
Solidariedade, PL e PSC.
A TVT e as páginas das centrais nas redes sociais transmitiram o evento, que encerrou às 17h15 com vários artistas
cantando O Sal da Terra, de Beto Guedes. A iniciativa teve como objetivo divulgar uma
campanha de solidariedade às pessoas impactadas pela Covid-19. Um dos versos da
canção de Guedes (“Vamos precisar de todo mundo”) virou mote da ação.
Diversidade política
Um dos destaques do evento foi a participação de representantes
de correntes políticas diversas – e mesmo antagônicas -, como os ex-presidentes
Lula e FHC ou os governadores Wilson Witzel (PSC-RJ) e Flávio Dino (PCdoB-MA).
Depois de 1989, quando o líder do PSDB apoiou o petista no
segundo turno da eleição presidencial, os dois se afastaram e passaram a ser
concorrentes. Lula perdeu duas eleições para FHC (1994 e 1998) e ganhou ou ajudou
o PT vencer outras quatro (2002, 2006, 2010 e 2014).
O ineditismo do gesto está no fato de FHC e Lula terem se
reunido num ato político pela primeira vez em 30 anos, ainda que de forma
virtual. Nesse período de distanciamento, eles se encontraram algumas vezes em situações como o velório
de suas ex-esposas.
Novo mundo
Em sua participação, Lula se solidarizou com os
familiares das vítimas da Covid-19 e com os trabalhadores que estão na linha de
frente de combate à doença. Ele defendeu um novo mundo após a pandemia e que os
trabalhadores sejam os protagonistas da transformação. O vídeo com a mensagem
já havia sido divulgado nas suas redes sociais antes do evento.
O ex-presidente destacou as lições do passado em momentos
de crise profunda. “A História nos ensina que grandes tragédias costumam ser
parteiras de grandes transformações”. Nesse sentido, o petista falou em
“comunidade universal” e que espera um novo mundo onde “o coletivo haverá de
triunfar sobre o individual, a solidariedade e a generosidade triunfarão sobre
o lucro".
União
Já FHC pregou união e falou da construção do futuro. “Não
é hora de nos desunirmos. É hora de nos juntarmos porque temos que construir um
futuro. O futuro tem que ser construído a partir das condições do presente. São
negativas, eu sei, mas são as que nós temos”, afirmou.
O tucano destacou a “capacidade de olhar para frente,
acreditar no futuro e juntar as pessoas para que possam marchar juntas”. O
líder do PSDB também enfatizou a necessidade de “manter a democracia, a
liberdade. As tarefas são muitas, e só com união se consegue superá-las”,
disse.
Dino e Witzel
Também antagônicos e ex-juízes, os governadores do
Maranhão, Flávio Dino, e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, participaram do evento. Dino destacou a necessidade de os governos priorizarem ações sociais e de
saúde. “Temos que preservar a saúde dos brasileiros, das brasileiras,
especialmente dos mais pobres. Uma grande união, solidariedade, com ações de
saúde e também ações sociais, para proteger aqueles que estão sofrendo em face
da crise sanitária”, disse o comunista, que também destacou a importância do SUS
(Sistema Único de Saúde).
Já Witzel, que integra o Partido Social Cristão, criticou
Bolsonaro, de quem foi aliado nas eleições de 2018. “Acreditei num projeto com
o presidente Jair Bolsonaro. Aproveito, neste 1º de Maio, para pedir desculpas
ao povo brasileiro, porque eu errei. Erramos. Escolhemos um presidente que é
irresponsável, que não entendeu a responsabilidade do cargo que ocupa. Ele,
hoje, só pensa nas eleições de 2022 e não exerce aquilo que nós esperávamos que
ele exercesse, que é governar”.
Dilma Rousseff
O evento contou também com a participação da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e de ex-candidatos a presidente da República. A petista falou em unidade, acusou o governo federal de
omissão e afirmou que Bolsonaro “avilta a cadeira de presidente da República”.
Já Ciro Gomes (PDT) – que ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais de
2018 - falou em um novo projeto de desenvolvimento. “Que possamos ser capazes
de organizar a nossa luta e reconquistar os nossos direitos”, ressaltou.
Candidata a presidente por três eleições seguidas (2010,
2014 e 2018), Marina Silva (Rede) defendeu que não se pode permitir “que
qualquer governo com delírios autoritários queira retomar o processo de
ditadura e de autoritarismo no nosso país”. Ela ressaltou que “é fundamental
que a gente esteja unido em torno daquilo que é essencial: a defesa da vida, a
proteção dos direitos e a defesa de nossa democracia”.
Fernando Haddad (PT), que disputou o segundo turno das
eleições presidenciais de 2018 com Jair Bolsonaro, disse que a tarefa agora é
resistir e “recompor o campo progressista”. “Não apenas impedir o que está
sendo feito, mas, revigorado, passar à linha ofensiva”.
Roger Waters
O 1º de Maio também contou com atrações internacionais.
Ex-Pink Floyd, o cantor inglês Roger Waters, saudou os
trabalhadores nestes “tempos conturbados” e cantou We Shall Overcome (Nós devemos superar). “São os sindicatos, os trabalhadores e as pessoas comuns
que vão salvar o mundo”, afirmou o músico.
Outra atração internacional do evento foi o ator
norte-americano Danny Glover - protagonista do filme Máquina Mortífera.
Ele disse que o Brasil teve recentemente interrompido um processo de
transformação social, construído por Lula e Dilma. Mas ressaltou, ao final de
sua mensagem, que “a luta continua”.
A programação incluiu uma diversidade de artistas e grupos
musicais, entre os quais Emicida, Daniela Mercury, Ana Cañas, Filipe Catto,
Odair José, Dead Fish, Paulo Betti, Marcelo Jeneci, Chico César, Francis Hime, Olivia
Hime, Preta Rara, Preta Ferreira, Zélia Duncan, Leci Brandão, Ellen Oléria, Mistura
Popular, Marcia Castro, Kaê Guajajara, Fábio Assunção, Elisa Lucinda, Aline
Calixto, Aíla, Fernanda Takai e Dira Paes.
Também foram exibidos depoimentos de desempregados,
moradores de rua, trabalhadores que convivem com a pandemia e representantes de
entidades e movimentos sociais, como MST (Movimentos dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra), Marcha Mundial das Mulheres, ABI (Associação Brasileira de Imprensa), UNE (União Nacional dos Estudantes), OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e OIT (Organização Internacional do
Trabalho).
Nenhum comentário