Quem é Lucho Arce, eleito presidente da Bolívia com 55,10% dos votos
Com a vitória no primeiro turno, o economista traz de volta ao poder o MAS (Movimento ao Socialismo).
O Tribunal Supremo Eleitoral da Bolívia encerrou a contagem oficial dos votos do pleito presidencial nesta sexta-feira (23). Com 55,10% dos votos, o socialista Luis Alberto Arce Catacora venceu a disputa no primeiro turno, seguido pelo direitista Carlos Mesa (28,83%) e o candidato da extrema direita Luis Fernando Camacho (14%). Este último aliado do presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
Foto: reprodução Twitter/via Fotos Públicas |
As eleições ocorreram um ano após o golpe de Estado que levou à renúncia do ex-presidente Evo Morales Ayma e seu vice, Alvaro García Linera. As previsões apontavam um resultado similar ao do pleito de outubro de 2019, com o MAS podendo vencer ainda no primeiro turno, já que a legislação boliviana dá vitória a quem acumular 50% + 1 ou 40% dos votos e uma diferença de 10 pontos percentuais sobre o segundo colocado.
No entanto, o resultado foi ainda melhor para os socialistas: ultrapassaram a barreira dos 50%, ampliaram a diferença para o segundo colocado (26%) e ainda obtiveram maioria nas duas Casas Legislativas. O MAS terá 21 senadores, o partido de Mesa 11 e o partido de Camacho contará com 4 representante. Na Câmara dos Deputados, das 130 cadeiras, os socialistas vão ocupar 73, contra 41 dos partidários de Mesa e 16 dos aliados de Camacho.
Com esmagadora votação e maioria no Parlamento, Luis Alberto Arce Catacora – também conhecido como Lucho Arce – terá como principais desafios recuperar a economia boliviana e governar o país em meio à pandemia de Covid-19. Seu mandato será de cinco anos e a posse foi marcada para 8 de novembro.
Arce e partidários celebram a vitória após os resultados iniciais indicarem ampla margem de votos. Foto: reprodução/Facebook (Lucho Arce) |
Lucho Arce é economista, graduado pela Universidade Mayor de San Andrés e foi ministro de Economia durante 13 anos no governo de Evo Morales. Responsável pelas políticas do período chamado de "milagre econômico", quando a Bolívia foi o país que mais cresceu na América Latina durante quatro anos consecutivos.
Em 2018, o país sul-americano registrou um aumento de 4,7% do Produto Interno Bruto (PIB), batendo um recorde de US$ 40,8 bilhões, enquanto a média de crescimento mundial foi de 3,2% e regional 1,7%, segundo a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal).
Natural de La Paz, antes de ser ministro, Arce trabalhou entre 1987 e 2006 no Banco Central da Bolívia. Entre 2017 e 2019, esteve licenciado por 18 meses do cargo, devido a um tratamento de câncer no rim, que realizou no Brasil.
Logo no início da sua gestão, impulsionou a nacionalização do setor energético, incluindo a gigante Yacimientos Petrolíferos Fiscais da Bolivianos (YPFB), triplicando os ingressos do Estado, com impostos a empresas privadas de 50% a 85% sobre a exploração de reservas de gás, o que contribuiu para manter uma média de crescimento anual de 5% durante toda a década seguinte.
Dessa forma, em uma década, o país aumentou suas reservas de US$ 700 milhões para US$ 20 bilhões. Com o excedente gerado pelo setor energético, mineiro e agrícola, a gestão do MAS investiu na construção de rodovias, transporte público, geração de empregos e programas sociais para diminuir a desigualdade social do país, que, de acordo com a ONU, é de 11,7%.
Na campanha, o candidato do MAS teve amplo apoio dos indígenas e setores populares. Foto: reprodução/Facebook (Lucho Arce) |
Modelo ‘redistribuidor’
A proposta do ex-ministro era diversificar a base da economia boliviana, estimulando o desenvolvimento do turismo, da agricultura e da indústria, com um modelo que ele qualificava de "redistribuidor".
O Modelo Econômico Social, Comunitário e Produtivo foi fruto de estudos iniciados ainda em 1999 por Luis Arce e um grupo de acadêmicos e intelectuais ex-militantes do Partido Socialista (PS-1), com os quais trabalhou como professor universitário. À época, questionavam por que um país rico em recursos naturais poderia ser um dos mais pobres da região.
Entre os nomes mais destacados do grupo, estão o
ex-vice presidente Álvaro García Linera e Carlos Villegas, que ajudou a
escrever o programa político do primeiro governo de Morales.
A proposta buscava "criar as bases para transitar a um novo modo de produção socialista", destinando anualmente uma média de US$ 7 bilhões às áreas sociais. Com isso, o índice de extrema pobreza do país passou de 38,2%, em 2005, para 17,2%, em 2018. Enquanto a taxa de desemprego se posicionou em 4,2% – um mínimo histórico.
Nenhum comentário