Escândalo: Abin trabalhou para Flávio Bolsonaro em caso de corrupção
Agência do governo traçou “missão” de anular caso Queiroz, além de sugerir demissão de servidores da Receita Federal.
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) produziu relatórios para ajudar a defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, no caso das “rachadinhas”. De acordo com a Revista Época, o órgão do governo federal mostrou aos advogados como procederiam para obter os documentos que viabilizassem um pedido de anulação da investigação, que envolve o ex-assessor Fabrício Queiroz.
Senador Flávio Bolsonaro usou a estrutura de órgão governamental para se defender no caso Queiroz. Foto: Roque de Sá/Agência Senado |
Entretanto, os documentos contradizem o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, que negou publicamente a atuação da Abin e do setor de inteligência do governo Bolsonaro na defesa do senador investigado.
Relatórios
da Abin
A Abin deixa explícito seus objetivos com os relatórios, em um dos documentos. Em um campo intitulado “Finalidade”, relata: “Defender FB (sigla para o nome do senador) no caso Alerj demonstrando a nulidade processual resultante de acessos imotivados aos dados fiscais de FB”.
Nesse mesmo relatório, a Inteligência do governo federal classifica como uma “linha de ação” para inocentar o senador: “Obtenção, via Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), de ‘apuração especial’, demonstrando acessos imotivados anteriores (arapongagem)”. O texto ainda aponta a dificuldade de obter dados na Receita e faz acusações contra servidores do órgão e ex-secretários como, por exemplo, Everardo Maciel.
“A dificuldade de obtenção da apuração especial (Tostes) e diretamente no Serpro é descabida porque a norma citada é interna da RFB da época do responsável pela instalação da atual estrutura criminosa — Everardo Maciel. Existe possibilidade de que os registros sejam ou já estejam sendo adulterados, agora que os envolvidos da RFB já sabem da linha que está sendo seguida”, diz o relatório, em alusão a José Tostes Neto, chefe da Receita Federal.
Uma “alternativa de prosseguimento” traçada pela Abin envolveria a Controladoria Geral da União (CGU), o Serpro e a Advocacia Geral da União (AGU). “Em resumo, ao invés da advogada ajuizar ação privada, será a União que assim o fará, através da AGU e CGU — ambos órgãos sob comando do Executivo”, afirma o relatório.
O
segundo documento faz orientações diretas às advogadas de Flávio Bolsonaro, que
deveriam fazer uma “manobra tripla” para comprovar o suposto escrutínio de
servidores da Receita. “A dra. Juliet (provável referência à advogada Juliana
Bierrenbach, também da defesa de Flávio) deve visitar o Tostes, tomar um
cafezinho e informar que ajuizará a ação demandando o acesso agora exigido”,
diz o relatório.
Na sequência, o texto sugere que a defesa peticione ao chefe do Serpro o fornecimento de uma apuração especial sobre os dados da Receita, baseando-se na Lei de Acesso à Informação, e afirma que o pedido deveria ser feito por escrito. O relatório, por fim, recomenda a “neutralização da estrutura de apoio”, a demissão de “3 elementos-chave dentro do grupo criminoso da RF”, que “devem ser afastados in continenti”.
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