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Mulheres indígenas lutam contra especulação imobiliária em Alter do Chão, no Pará

O local possui belas praias, igarapés e floresta conservada que despertam a ganância de grileiros, mineradores, desmatadores e grandes empresas.

As Suraras Estefani Galvão, Jaciara Borari, Adelina Borari, Leila Borari, Luiara Borari, Larissa Borari, Samara Borari, Val Munduruku e Carol Arara.  Foto: divulgação
Por Crítica21 – com informações da agência Amazônia Real
25/12/2020

Além do aumento das queimadas e ações criminosas de grileiros, Alter do Chão sofre com a especulação imobiliária. Para defender o balnerário amazônico no oeste do Pará, mulheres indígenas se uniram com o objetivo de denunciar a pressão imobiliária e o processo de gentrificação da localidade. O movimento é uma iniciativa da Associação de Mulheres Indígenas de Alter do Chão em parceria com os coletivos Clímax Brasil e Suraras do Tapajós. 

Distrito de Santarém, a área fica no território indígena do povo Borari, às margens do Rio Tapajós. Conhecido como “Caribe brasileiro”, Alter do Chão é um dos pontos turísticos mais visitados da Amazônia, chegando a reunir quase 100 mil turistas anualmente, segundo reportagem da agência Amazônia Real. A população do distrito é de 6 mil pessoas. 

O local possui belas praias, igarapés e área de floresta conservada que despertam a ganância de grileiros, mineradores, desmatadores e grandes empresas interessadas em explorar sua riqueza natural e o potencial turístico. 

Alter do Chão é considerado o "Caribe brasileiro". Foto: Wikipédia 

“Nós vivemos no meio de loteamentos, crescemos vendo nossas terras serem vendidas a preços de banana”, explica Val Munduruku, integrante das Suraras, gestora pública e ativista ambiental, em entrevista à agência Amazônia Real. 

“Muitos dos nossos anciãos tiveram seus terrenos vendidos e mudaram para a área periférica. Quando decidimos falar sobre especulação imobiliária, não foi uma escolha voluntária, foi a necessidade de apresentar para as pessoas de fora como estamos sendo encurralados por um sistema capitalista grileiro. Ou agimos ou seremos engolidos”, afirma a ativista, em alusão ao processo de gentrificação – transformação do espaço em áreas nobres ou comerciais, que força a mudança dos moradores e prejudica a preservação do meio ambiente e a manutenção da cultura local. 

A especulação em Alter do Chão

Em 2017, houve tentativa de aprovação de uma lei na Câmara municipal, que previa alterações nas normas de parcelamento, uso e ocupação do solo em Santarém, para facilitar a construção de empreendimentos comerciais. A proposta afetava diretamente os territórios de comunidades locais, como quilombolas, indígenas e ribeirinhos. 

Por pressão popular, o projeto foi suspenso pelo Ministério Público, mas as construções irregulares continuaram, de acordo com reportagem da agência Amazônia Real. Um desses empreendimentos – o Condomínio Chão de Estrelas - foi alvo de uma ação civil pública movida pela Associação de Moradores e Amigos do Bairro Carauari contra a prefeitura de Santarém, cuja Secretaria Municipal de Meio Ambiente concedeu licenciamento ambiental à obra. 

O empreendimento é um edifício de sete andares que começou a ser construído em área de preservação ambiental entre o Lago Verde e o Lago do Carauari. A obra se encontra paralisada por pressão da comunidade local, mas há o temor de que seja retomada porque o licenciamento ambiental ainda está vigente. 

Outra ameaça a Alter do Chão é o aumento de queimadas e do desmatamento. O distrito fica a 37 quilômetros da zona urbana de Santarém, um movimentado escoadouro de soja do Centro-Oeste. Para facilitar esse escoamento, os criminosos encontram nas queimadas uma forma de ‘limpar’ o terreno – o que estimula a grilagem de terras e a venda ilegal de lotes. 

Queimada em área de preservação ambiental de Alter do Chão, em 2019. Foto: Eugênio Scannavino

No ano passado, Alter foi alvo de uma das maiores queimadas no Pará dos últimos tempos. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a área de preservação ambiental atingida pelas queimadas foi o equivalente a 1.175,7 campos de futebol. Para desviar o foco, o presidente Jair Bolsonaro, sem provas ou evidências, acusou brigadistas de Alter do Chão de terem iniciado o incêndio para receber verbas de ONGs. Inquérito da Polícia Federal, publicado neste ano, comprovou que não houve envolvimento da Brigada. 

“Mulheres Tapajônicas 2020”

A campanha por Alter do Chão é uma das ações do projeto “Mulheres Tapajônicas 2020”, idealizado pelo coletivo Clímax Brasil e realizado em parceria com as Suraras do Tapajós. Formado em 2018, as Suraras já foram o único grupo musical do Brasil integrado apenas por mulheres indígenas – outros conjuntos femininos surgiram depois.

Mulheres da região do Tapajós realizam eventos em defesa de Alter do Chão. Foto: divulgação

O coletivo de mulheres tapajônicas é um grupo de carimbó, que, por meio da música, coloca em pauta temas importantes para a região, como a preservação do meio ambiente e valorização da cultura local. Agora, o coletivo tem usado sua forma de expressão para denunciar a grande especulação imobiliária que persiste em Alter do Chão.

Edição: Anderson Augusto de Zottis - Crítica21

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