Colapso em Manaus: recorde de enterros, remédios ineficazes e falta de oxigênio
“Há pessoas literalmente morrendo sufocadas em suas casas”, afirma o pesquisador da Fiocruz Amazonas, Jesem Orellana.
Cemitério público de Manaus volta a ter recordes de enterros. Foto: Raphael Alves/Amazônia Real/08.01.2021 |
A capital do Amazonas volta a sofrer de forma mais intensa com a covid-19. Pelo menos um hospital e serviços de pronto-atendimento estão sem oxigênio em Manaus, além de a cidade ter recorde de enterros e internações. Segundo o pesquisador e epidemiologista da Fiocruz Amazonas, Jesem Orellana, a situação é dramática.
À jornalista Mônica Bergamo, na BandNews, o especialista afirmou que “há pessoas literalmente morrendo sufocadas em suas casas”. Segundo ele, as UTIs estão superlotadas: “São centenas de pacientes em fila para internação em leito clínico e de UTI [Unidade de Terapia Intensiva]. Na terça-feira recebi dois chamados desesperados de conhecidos pedindo alguma dica para internar parentes deles em Manaus. É o colapso.”
Segundo levantamento inédito da Arpen-Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil), o número de pessoas mortas em domicílios aumentou 38% no Amazonas entre 2019 e 2020, durante a pandemia de covid-19.
O total de mortos em residências passou de 3.201 pessoas, em 2019, para 4.418 no ano passado. De acordo com Orellana, o local da morte é sinal da incapacidade do sistema hospitalar de internar, intubar e tratar os pacientes com covid-19. Ele ressalta que o colapso segue em 2021.
Segundo o portal G1, a média móvel de mortes cresceu 183% no Amazonas na última semana. Até esta quarta-feira (13), mais de 219 mil pessoas haviam sido infectadas pela covid em todo o estado, e mais de 5,8 mil morreram com a doença. O número de internações pela doença em Manaus chegou a 2.221, entre 1º a 12 de janeiro – o maior índice desde o início da pandemia. Mais de 200 pacientes foram transferidos para outros estados.
Cemitérios
lotados
Manaus registrou 198 enterros nesta quarta-feira e bateu recorde de sepultamentos diários pelo quarto dia seguido, conforme o G1. Desse total, 87 enterros tiveram como causa declarada a covid-19. Além disso, foram instaladas duas câmaras frigoríficas no Cemitério do Tarumã. O objetivo é manter conservados os corpos de vítimas que morrerem nos horários em que os cemitérios estão fechados.
Cloroquina
Na segunda-feira o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, esteve em Manaus e se encontrou com prefeito da cidade, David Almeida (Avante) e com o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC). O ministério pressionou os governantes a usarem remédios comprados em larga escala pelo governo de Jair Bolsonaro, como a cloroquina e a ivermectina. Os medicamentos não têm eficácia comprovada contra o novo coronavírus.
Em documento enviado à secretaria de Saúde de Manaus, o ministério de Pazuello trata como “inadmissível” a não utilização desses remédios. O documento, no entanto, não trata de nenhum tipo de auxílio ou socorro a Manaus que sofre com a falta de aparelhos de oxigênio e superlotação em UTIs.
De acordo com médicos que não quiseram se identificar, a situação na capital do Amazonas é mais grave do que vem sendo divulgado. “Pacientes ficam pelos corredores sem oxigênio até morrer. Tem gente ‘internada’ dentro de ambulância.”
Com informações da RBA, Folha de São Paulo, BandNews e G1.
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