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Luiz Inácio bombou: como a ‘Semana Lula’ chacoalhou a política no Brasil

Ex-presidente alavancou a audiência do JN, botou Bolsonaro para trabalhar e se mostrou estadista em discurso histórico em São Bernardo do Campo. 

Discurso de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC pautou a mídia e as redes sociais. Foto: Ricardo Stuckert

Por Anderson Augusto de Zottis – Crítica21
15/03/2021

O ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), jogou uma bomba na política nacional na última segunda-feira (8). À tarde, os portais de notícia divulgaram que o magistrado havia anulado todos os processos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conduzidos na 13ª Vara Federal de Curitiba, no âmbito da operação Lava Jato. Esse ato devolveu a Lula o direito de ser candidato nas próximas eleições presidenciais. 

Após a notícia, o assunto do dia passou a ser a decisão de Fachin que colocou Lula no jogo eleitoral. Diversas lideranças políticas e personalidades da arte e do universo jurídico comemoraram a decisão. O presidente da Argentina, Alberto Fernández, minutos depois da divulgação da notícia ‘bombástica’, postou mensagem no twitter: “Celebro que Lula tenha sido reabilitado em todos os seus direitos políticos. As sentenças proferidas contra ele com o único objetivo de persegui-lo e eliminá-lo da carreira política foram revogadas. Justiça foi feita!” 

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), twittou: “Minha maior dúvida é se a decisão monocrática foi para absolver Lula ou Moro. Lula pode até merecer. Moro, jamais!”. O senador Renan Calheiros (MDB) comentou a decisão, mas cobrou punição aos ex-juiz Sergio Moro. “A decisão de tornar o Lula elegível é um passo importante. Mas a Justiça não pode deixar de julgar e jogar para debaixo do tapete a parcialidade do então juiz Sérgio Moro. As responsabilidades precisam ser apuradas”, disse. 

Lula superou o BBB

Além da repercussão no meio político, a decisão do STF bombou nas redes sociais. Segundo a consultoria Arquimedes, a anulação dos processos contra Lula gerou 2,5 milhões de comentários no Twitter naquele dia – o total foi maior que o movimentado pelo BBB (Big Brother Brasil) – 1,8 milhão. Os dados foram divulgados pela coluna do Ancelmo Gois, de O Globo. Quanto ao teor das menções, 88% foram favoráveis ao ex-presidente, 9% foram feitas por bolsonaristas e 3,5% por defensores da Lava Jato.  

No dia seguinte, terça-feira (9), o tema Lula continuou no noticiário, seja pela repercussão do dia anterior, seja pelo julgamento da suspeição de Moro, em sessão conduzida pela Segunda Turma do STF. O julgamento não foi finalizado, no entanto os votos dos ministros Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes escancararam ainda mais a parcialidade do magistrado de Curitiba e reforçaram a tese de inocência sustentada pela defesa do petista.    

O ápice

Mas o ápice da semana foi o discurso e entrevista de Lula na quarta-feira (10), no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo. Durante cerca de duas horas e meia, o ex-presidente falou de política nacional, eleições de 2022, vacinação contra covid-19, “desgoverno” de Bolsonaro, além de ter reforçado as críticas ao ex-juiz Sergio Moro e aos procuradores lavajatistas.  

Nas redes sociais, o discurso de Lula foi bastante elogiado por políticos de diferentes partidos, por juristas e figuras do meio artístico. O ex-presidente foi apontado como estadista e gerou memes de comparação com o atual mandatário.  

O jornalista Kennedy Alencar, em sua coluna no UOL, afirmou que “Lula demonstrou preparo para debater temas do país como um estadista. Ficou evidente o desejo de voltar à Presidência. E mostrou que sabe qual é o caminho para derrotar Bolsonaro, com críticas que foram aos pontos fracos do pior presidente da história do país.”  

Até a jornalista Míriam Leitão, do grupo Globo, elogiou a postura do ex-presidente. "Lula falou como estadista, como candidato à presidência e com a experiência de quem já governou o Brasil". Também colunista de O Globo, Ascânio Seleme, disse que “Lula voltou com tudo”: ele “falou de política, economia, saúde; conversou com os brasileiros nos seus termos; mostrou que está pronto para negociar em todos os âmbitos; e apontou quem é o seu inimigo. Isso, sem texto pronto, sem teleprompter, apenas com uma lista de tópicos em sua frente.” 

Prosseguiu Seleme: “Com a mesma empatia de sempre, mas sério, sem se permitir às gracinhas habituais de seus discursos, Lula se posicionou de maneira inequívoca como uma opção para o Brasil e os brasileiros. Os diversos pontos do discurso, mesmo os que não pareciam apontar na mesma direção, tinham Bolsonaro como alvo. Mas sempre com postura presidencial.” 

O discurso de Lula (seguido de entrevista) iniciou por volta das 11h30 e foi transmitido ao vivo por diversas emissoras, como a Band News, CNN e Globo News, além de canais no YouTube de veículos da mídia tradicional e das novas mídias, como UOL, Band, TV 247 e Carta Capital. O canal de Lula no YouTube também transmitiu o evento ao vivo e, até a noite deste domingo (14), contava com 886 mil visualizações. 

Depois do canal de Lula, a TVT (TV dos Trabalhadores) foi quem mais teve visualizações no YouTube (510 mil) até este domingo, seguida pelos canais do UOL (340 mil), Carta Capital (250 mil), Band Jornalismo (243 mil) e TV 247 (238 mil). A página da TeleSur no Facebook também transmitiu o evento ao vivo e contabiliza 54 mil visualizações e 1,6 mil compartilhamentos até este domingo (14). 

Maior audiência do Jornal Nacional 

A edição do Jornal Nacional (TV Globo), de quarta-feira (10), apresentou a maior audiência do ano. O telejornal teve como destaque o discurso de Lula e marcou 32 pontos de média - recorde de audiência do JN desde 8 de agosto de 2020, de acordo com o Observatório da TV. 

Na segunda-feira (8), o JN já havia ‘bombado’. Com a repercussão da anulação dos processos contra Lula, o telejornal teve sua melhor segunda-feira do ano no Ibope, com 30,5 pontos de audiência, segundo Notícias da TV, de Daniel Castro. 

O sucesso da ‘semana Lula’ também refletiu no aumento de filiados ao seu partido, o PT. Em apenas três dias, o Partido dos Trabalhadores registrou explosão de pedidos de filiação. Segundo o partido, a média de pedidos recebidos entre os dias 8 (quando foram anuladas todas as ações da Lava Jato contra Lula) e 10 (dia em que Lula falou ao país) representou um salto de 828%, em comparação à média de registros ocorridos na semana imediatamente anterior (1 a 7 de março). 

Lula vacinado e mudança em Ministério

Para terminar a ‘semana Lula” com reflexos ainda positivos, no sábado (13) o ex-presidente tomou a primeira dose da vacina contra o coronavírus. O ato também teve ampla cobertura da mídia e colocou ainda mais o petista no campo oposto ao de Jair Bolsonaro. Enquanto o atual presidente sabota a vacina e as medidas de prevenção à covid-19, Lula faz questão de se vacinar e ser um “garoto propaganda” da imunização, como havia prometido no discurso de quarta-feira. 

Ex-presidente tomou a primeira dose da vacina contra a covid-19 no sábado (13). Foto: Ricardo Stuckert

A participação de Lula na cena política sacudiu as bases do governo Bolsonaro e aumentou a pressão para que o atual mandatário mude de postura no enfrentamento à covid-19. Neste domingo (14), o atual ministro da Saúde Eduardo Pazuello teria pedido demissão a Bolsonaro, que já dialoga com possíveis substitutos.

Em suma, desde a última segunda-feira (8) o retorno de Lula para a cena política como candidato mobilizou o governo federal, o Congresso, a mídia tradicional (que deu ampla visibilidade a Lula em tom mais positivo, o que não deixa de ser surpreendente) e fez com que artistas, políticos e influenciadores não alinhados ao PT elogiassem a postura de Lula. Mostrou, também, que a aceitação ao petista é bem maior do que se imaginava, que ele dá audiência, que ele expressa e potencializa sentimentos coletivos, que ele tem empatia e sabe como responder à dor do povo. É como se, coletivamente, todos perguntássemos: “saudade de um presidente, né, minha filha?”. 

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